VIDA URBANA
Comerciantes, turistas e catamarãs disputam pôr do sol no Jacaré
Segundo comerciantes, a movimentação das embarcações é maior no final de semana. Eles também reclamam da poluição.
Publicado em 04/03/2016 às 9:00
Apreciar o pôr do sol às margens do trecho do rio Paraíba, que encontra o mar na praia do Jacaré, em Cabedelo, na Grande João Pessoa, está cada vez mais disputado entre os visitantes. O motivo é que os catamarãs estão se aglomerando nos locais onde antes existiam os bares que foram retirados após acordo judicial, em agosto de 2015. Segundo comerciantes que trabalham no parque do Jacaré, a movimentação desse tipo de embarcação é maior durante o fim de semana e, com mais gente em circulação, maior a sujeira e o despejo de dejetos no rio.
Quando o horário do pôr do sol se aproxima, os catamarãs começam a chegar, se posicionam estrategicamente no trecho do rio onde estavam instalados os bares que foram demolidos, atrapalhando a visão de quem preferiu contemplar o espetáculo em terra firme, na feirinha do parque. “Para quem não está no catamarã é difícil porque eles (embarcações) tomam a vista e a gente não pode visualizar melhor. Acho que falta organização, porque a natureza está aí para todo mundo”, reclamou Irene Delmiro, que veio de São Paulo passar férias em João Pessoa.
Já a professora mineira Rachel de Carvalho, que está visitando o Litoral paraibano pela quinta vez, lamentou a falta de preocupação com o meio ambiente, por parte dos turistas que estavam nas embarcações. “Desde que conheci o Jacaré, achei tudo muito lindo e sempre achei invasiva a presença dos bares. Agora porque não havia muita preocupação com o meio ambiente. Sábado nós viemos aqui e vimos várias vezes o pessoal dos catamarãs jogarem lixo no rio. Isso é um desrespeito com a natureza”, criticou a turista.
A lojista Vanessa Lena tem a mesma opinião das visitantes e revela que também ouve reclamação da maioria dos turistas que visitam a praia do Jacaré por vias terrestres. “A gente espera que esse projeto seja agradável para os turistas e atrativo para o nosso comércio também. Mas tem que haver respeito com o meio ambiente e com as pessoas, porque esses catamarãs ficam 'estacionados' aí e impedem a visão de muita gente. Teria que ser mais organizado”, reforçou a comerciante.
Também dona de loja na área, Lourdes Shmizu reclamou da poluição sonora vinda de algumas embarcações e ainda da falta de infraestrutura adequada para atender os turistas. “Tem dias que é muito barulho vindo desses barcos. Outro problema é a falta de banheiro”, disse. (Colaborou Othacya Lopes)
Prefeitura: Marinha deve fazer fiscalização
O secretário de Turismo de Cabedelo, André Felisberto, alegou que a fiscalização para coibir e punir qualquer irregularidade cometida no trecho do rio Paraíba e a praia do Jacaré é de responsabilidade da Marinha. Segundo ele, esse espaço pertence à União e a prefeitura não tem gerência sobre o local.
A assessoria de imprensa da Marinha explicou que a gerência do órgão no local se restringe às inspeções navais, que são feitas rotineiramente. Também, durante o pôr do sol, uma moto aquática realiza rondas marítimas para prevenir infrações e garantir a segurança nas embarcações. Quanto às denúncias de poluição, o órgão não recebeu, até o momento, nenhuma. A assessoria destacou que a população pode exercer esse papel fiscalizador e realizar denúncias por meio do disque denúncia 0800 281 30 71 ou do canal de comunicação 24h, o whatsapp 99302-9294.
Sobre as denúncias dos turistas e comerciantes a respeito da poluição causada pelos catamarãs, o secretário informou que vai apurar os casos e, se comprovadas as denúncias, as informações serão encaminhadas para os órgãos ambientais. A reportagem procurou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama), mas a assessoria de comunicação do órgão informou que a responsabilidade de fiscalização e punição de crimes ambientais na praia do Jacaré seria de responsabilidade da Superintendência do Meio Ambiente do Estado (Sudema), que emitiu as licenças ambientais.
Através da assessoria de comunicação, a Sudema informou que a fiscalização dos catamarãs seria de responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente de Cabedelo.
O secretário de Meio Ambiente de Cabedelo, Walber Farias, por sua vez, informou que, assim como a Marinha, desconhece o caso e nunca recebeu denúncias sobre poluição no local. Ele disse que a maior parte do lixo visto no local provém da maré e é trazido de toda a Região Metropolitana. Ele ainda destacou ações que estão sendo realizadas pela prefeitura para melhorar a visualização do espetáculo por parte da população.
“Elaboramos um projeto e já contatamos a Marinha para fazemos uma zona de exclusão de navegação, livrando toda a frente, democratizando o espaço. Ainda não temos prazo para que isso aconteça porque dependerá de estudos. Mas estamos agindo e sempre vamos ao local, inclusive daremos início na semana que vem ao cadastramento desses profissionais. Não existe apenas uma competência da prefeitura nesse sentido, a população também pode nos ajudar atuando como fiscal e os demais órgãos do Meio Ambiente da mesma forma. É uma área de atuação comum”, disse. Denúncias à Semam de Cabedelo pelo fone 3228-0596.
Donos dos catamarãs De acordo com Leonardo Guedes, proprietário da empresa de catamarãs Maresia e representante de todos os comerciantes do ramo, as denúncias de que turistas e proprietários de embarcações estariam jogando lixo no rio é inverídica. “Temos lixeiros a bordo e quase não há consumação. Essa questão do lixo é conversa”, declarou. Ele ainda reiterou que Jurandy do Sax, que toca o tradicional 'Bolero de Ravel' no momento da contemplação do pôr do sol, é pago pelos donos das embarcações, o que daria a eles o direito de ter um espaço privilegiado no local.
“Por bancarmos o espetáculo, temos um espaço privilegiado. Mas nós não ocupamos toda a área. Só são quatro catamarãs e cada um mede apenas 10 metros. A área inteira de contemplação possui mais de 200 metros. Nós deixamos espaço para todos. Mas, de qualquer forma, sabemos que a prefeitura tem intenção de colocar boias e delimitar nosso espaço. Estamos dispostos, desde que isso seja conversado e de comum acordo”, afirmou.
Acordo firmado
Em acordo firmado em 2015 com o Ministério Público Federal (MPF), a Prefeitura de Cabedelo, o Governo do Estado e a Cagepa se comprometeram a apresentar o projeto para o reordenamento e ocupação do Parque Turístico Municipal do Jacaré. O documento deve conter projetos básicos de pavimentação e drenagem do acesso à área pública, além do sistema de abastecimento de águas e ao projeto de rede coletora de esgoto referentes ao local. Através da assessoria de comunicação, a Justiça Federal e o MPF informaram que acompanham a execução do projeto.
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