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CULTURA

David Bowie: o camaleão desnudo

Nem Beatles, nem Dylan! Nem Beach Boys, nem Ramones: It’s Bowie! Com direito a pontos de exclamação, o New Musical Express, alardeava sobre “qual o nome mais influente do rock”.

Publicado em 26/12/2010 às 9:39

Láuriston Pinheiro
Especial para o Jornal da Paraíba

Nem Beatles, nem Dylan! Nem Beach Boys, nem Ramones: It’s Bowie! Com direito a pontos de exclamação, o New Musical Express, um dos mais prestigiados veículos de mídia impressa do Reino Unido, alardeava na capa de uma de suas edições no final do ano 2000 o resultado de uma enquete sobre “qual o nome mais influente do rock”. Quase dez anos depois, em outubro de 2010, a mesma NME repetiu a pergunta. E um novo eleitorado de bandas e músicos votantes repetiu o resultado.

A permanência e a relevância de David Bowie no cenário da cultural ocidental já não podem ser questionadas há décadas. Muito do que de melhor se ouve hoje - de Killers a Arcade Fire, de LCD Soundsystem a Paul Weller - pagam tributo à obra do “camaleão do rock” (só para exumar o velho epíteto como ele é insistentemente reconhecido desde os anos 70). Agora todas as encarnações de David podem ser revistas e apreciadas com a publicação de Bowie (448 páginas, Editora Benvirá, R$ 49,90), a biografia escrita por Marc Spitz.

De cara, o autor convida os leitores a “ler no volume máximo”. Se alguém ainda não sabe, Bowie não se resume a um “fato musical” no sentido estrito. Sua permanente inquietação estética manifesta-se num eterno e expansivo crossover que envolve moda e teatro, cinema e artes plásticas. E de lambuja, contestação de costumes.

Num veredicto direto, o livro ainda não é “a” biografia definitiva (será que um dia vamos ter?), mas é ótimo. Marc Spitz pesquisou exaustivamente, leu tudo, entrevistou quem pôde e entrega aos leitores exatamente o que ele se propôs: uma biografia pop, palatável sem ser superficial, “esperta” sem ser “cabeça”, e calcada principalmente na trajetória artístico-musical do gênio.

Não ficou de fora nada de relevante, e funciona muito bem como uma introdução de luxo para quem se interessa e não é propriamente um fã. É eficiente mesmo para quem já gosta, ouviu as músicas, viu os filmes e quer finalmente ter uma visão geral do conjunto da obra. Desde o início, o autor não esconde sua condição de fã, mas isso não o impede de meter o pé nas inúmeras jacas que Bowie deixou pelo caminho. O tempo inteiro, o texto equilibra reverência sem condescendência, o que convenhamos, não é serviço maneiro.

Desde a infância, em meio a uma família disfuncional em Brixton, sul de Londres, cercado por parentes que tinham propensão à loucura, até a atual reclusão voluntária com a mulher e a filha em Nova Iorque, Bowie sempre alimentou o seu próprio enigma. Sempre se soube um estranho, deslocado no meio, e levou isso ao extremo como forma de arte e comércio.

Tanto na música (incorporando os alter-egos “Ziggy”, “Duque Magro Branco”, “A Dama”) quanto em suas mais notórias atuações em teatro (Homem-Elefante) e cinema (O Homem que Caiu na Terra, Fome de Viver e Labirinto), Bowie se empenhou em traduzir através de seus personagens muito da sua condição de “menos estrangeiro no lugar, que no momento”, tomando de empréstimo aqui o verso de Caetano (um Bowie tropical, Sílvio?).

Hoje - diante da estridência banal das personalidades do show business atual - poucas pessoas podem aferir o impacto na sociedade conservadora inglesa quando o andrógino Ziggy Stardust, a mais famosa das “máscaras” de Bowie, subiu de colant e salto plataforma ao palco do programa de TV Tops of the Pops para tocar “Space Oddity”, primeiro hit incontestável. Depois “daquilo”, podia tudo. É o “marco zero” do moderno rock inglês.

Como jornalista especializado em rock, Spitz - que já colabora com Spin, Uncut, e o New York Times - passa apenas de raspão, sem se aprofundar, em anedotas manjadas do tipo “Bowie e Jagger flagrados na cama”, e se destaca quando dá suas impressões sobre discos, filmes e shows do artista. Também discorre à vontade sobre os fenômenos sociais e modas musicais de cada época - mod, glam rock, punk, indie-rock, grunge, brit pop, drum and bass - em que a participação de Bowie foi capital como referência fundamental ou como antítese.

Enquanto, a cada ano, somos assombrados pela possível volta de David Bowie às prateleiras ou aos downloads (o último disco de inéditas, Reality, é de 2003), o “desocupado” continua a determinar de um jeito ou de outro o som que empolga as gerações X, Y, e se vier a existir, Z e W. Como um legítimo rock god, Bowie segue sendo a influencia capital da banda tal que influenciou a banda tal que influenciou a banda tal... por décadas e décadas sem fim, amém.

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Jornal da Paraíba

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