Mosaico dos anos de chumbo

Exibições cinematográficas, debates e reflexões sobre as ditaduras latino-americanas e suas consequências. A mostra nacional Cinema pela Verdade exibirá gratuitamente quatro filmes que orbitam o tema.

Nesta terça-feira, na 10ª edição do CCHLA - Conhecimento em Debate da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) serão exibidos o documentário nacional inédito Eu Me Lembro, de Luiz Fernando Lobo, às 9h, na Sala Multimídia, e a ficção argentina Infância Clandestina, de Benjamin Ávila (já exibida por aqui dentro da 3ª Noite de Estreia), às 19h, no Auditório 412 do CCHLA, ambos no campus de João Pessoa.

“A ideia de Eu Me Lembro surgiu de um curta-metragem sobre o trabalho da comissão de anistia”, relembra o diretor em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Depois inscrevi no edital ‘Marcas da Memória’ (da Comissão de Anistia) para ser um longa e o projeto foi contemplado”.

Lançado no Festival Internacional do Rio de Janeiro do ano passado, o documentário faz um panorama de cinco anos das caravanas da anistia, reconstruindo a luta dos perseguidos por reparação, memória e justiça por meio de imagens de arquivo e de entrevistas.

“A ideia original era trabalhar apenas com material de arquivo das caravanas”, revela Lobo. “Mas o material estava muito irregular do ponto de vista técnico e artístico”.

Com um ano e meio de produção, a equipe colheu depoimentos e acompanhou caravanas, pinçando as histórias que entrariam no filme. A proposta, segundo o realizador, é ter um produto final que representasse “a diversidade regional e a diversidade de casos de perseguidos pela Ditadura como um todo”.

NA PARAÍBA
Dentre as histórias mostradas no documentário, Luiz Fernando Lobo aponta que há um depoimento de uma militante universitária paraibana. “Esse tipo de documentário não tem exatamente um roteiro. Aos poucos vai se fazendo a partir da montagem”.

No ‘mar’ de histórias, o diretor analisa que o mais interessante é mostrar o mosaico disso tudo e em nenhum momento “cair na armadilha de acompanhar apenas um caso específico”.

Eu Me Lembro acompanha casos que vão desde a luta da mãe do cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981), passando pela história de um militante preso aos 17 anos, e de uma mãe que foi separada do seu filho ainda amamentando.

Sobre os debates após as exibições da mostra que percorrerá universidades dos 27 estados do país até agosto, o realizador acha que filmes como o seu “encontra muito ‘eco’ nesse tipo de plateia” acerca do tema. “Os debates tem um nível de aprofundamento surpreendente”, analisa Lobo, que tenta acompanhar alguns e estará neste próximo fim de semana em Tocantins.

OUTROS FILMES
Infância Clandestina se passa na Argentina do final dos anos 1970. O longa-metragem – que tem participação da paraibana Mayana Neiva – acompanha a vida de aparências de um garoto (o estreante Teo Gutiérrez Romero), visto que sua família luta contra a ditadura militar platina.

Amanhã, a mostra exibirá o chileno No, de Pablo Larraín (que também passou na 3ª Noite de Estreia, em João Pessoa) e o nacional Marighella, de Isa Grinspum Ferraz.

O drama estrelado por Gael García Bernal que disputou o Oscar reconstituí um plebiscito no final dos anos 1980 para definir a continuidade de Pinochet no poder.

Já o documentário mostra o maior inimigo da ditadura militar no Brasil, o guerrilheiro Carlos Marighella.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA EM JP

Terça-feira
9h
Local de exibição: Sala Multimídia do CCHLA
Filme: Eu me lembro, de Luiz Fernando Lobo
Debatedores: Waldir Porfírio – Membro da Comissão Estadual da Verdade e Coordenador do GT “Mortos e Desaparecidos Políticos”
19h
Local de exibição: Auditório 412 do CCHLA
Filme: Infância Clandestina, de Benjamin Ávila
Debatedores: Giuseppe Tosi e Maria de Nazaré Tavares Zenaide
Mediador: Rodrigo Freire

Quarta-feira
9h
Local de exibição: Auditório 412 do CCHLA
Filme: No, de Pablo Larraín
Debatedores: Rodrigo Freire e Regina Behar
Mediador: Mônica Nóbrega
19h
Local de exibição: Auditório 412 do CCHLA
Filme: Marighella, de Isa Grinspum Ferraz
Debatedores: Givanildo Oliveira Avelino e Monique Cittadino
Mediador: Rodrigo Freire