CULTURA
Com a boca no trombone
Manifesto do poeta Jessier Quirino, será lançado nesta terça-feira (6),em frente a igreja matriz de Itabaiana, vários artistas participarão do ato.
Publicado em 06/03/2012 às 6:30
O poeta Jessier Quirino costuma dizer que nasceu em Campina Grande, cidade pertencente à 'Grande Itabaiana', região do agreste paraibano onde reside e busca inspiração para os recitais e prosas, famosos por suas publicações pelas Edições Bagaço e apresentações nos palcos.
A desconcentração de suas atividades veio no período carnavalesco, onde o espaço público em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi tranformado em uma “verdadeira praça de guerra sonora”, segundo o artista campinense.
“Eram 'paredões' em processo de competição”, avalia Jessier. “O volume dessas estruturas era aumentado dia a dia durante todo o período do Carnaval.”
Como o título de seu mais recente espetáculo, Jessier promove nesta terça-feira um 'berro novo', colocando a boca no trombone – como reza a cartilha do velho dito popular – fazendo um ato público em frente à Igreja Matriz, testemunha da batalha de decibéis.
O manifesto 'Nota de Falecimento: Civilidade Carnavalesca' será pronunciado pelo próprio poeta, com direito a distribuição em versão impressa e à participação de artistas, entre eles o humorista Nairon Barreto, o repentista Oliveira de Panelas e os músicos Beto Brito, Bebé de Natércio, Adeildo Vieira, Amazan, além do Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, e do Secretário de Cultura do Estado, Chico César. "Contamos também com o apoio da Associação Cultural Memória Viva de Itabaiana e da loja maçônica Duque de Caxias", complementa.
Haverá também um abaixo-assinado correndo em praça pública para formalizar a manifestação da população frente à "promiscuidade sonora".
PRÓ-CARNAVAL
Jessier Quirino alerta que o manifesto não tem a intenção de “acabar com o Carnaval”, muito pelo contrário: agremiações locais, como o tradicional Bloco do Zé Pereira – “o equivalente ao Galo da Madrugada em Pernambuco” – não teve condições de desfilar pelas ruas de Itabaiana, pois o som da orquestra se anulava perante a cacofonia dos 'paredões'.
O contador de causos chama a atenção também pelas pequenas e importantes manifestações culturais que pedem voz por serem 'emparedadas' pelas vibrações que "chegaram até a rachar estruturas”, como as agremiações indígenas e os representantes do bumba-meu-boi.
O ato público veio em momento oportuno, já que o Ministério Público promete autuar com mais rigor a pertubação sonora.
Segundo o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), a infração deixa de ser um crime ambiental. A partir deste mês, as pessoas que usarem o equipamento de som de forma abusiva, causando perturbação à vizinhança, serão enquadradas na Lei de Contravenções Penais. Policiais civis e militares passarão a engrossar as fileiras de combate a esse tipo de crime (veja mais no caderno Cidades).
A questão de 'civilidade' não se resume apenas às folias de rua ou períodos de festa. A falta de educação impera nas conversas paralelas e nas micelânias dos toques de celular dentro dos teatros e cinemas do estado. O próprio poeta já foi vítima. “Pela minha timidez não consigo chamar a atenção”, revela Jessier Quirino. “Mas fico no desconforto de redobrar a minha concentração, já que meus textos são memorizados.”
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