POLÍTICA
Brasil é país com menos mulheres na política da América Latina
Desempenho do país no Congresso é o pior de toda a América Latina, com apenas 9,9% de participação
Publicado em 21/06/2015 às 7:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 17:24
A Câmara dos Deputados rejeitou no início da semana a criação de uma cota para mulheres no Legislativo. A proposta de emenda à Constituição fazia parte do pacote da reforma política e estabelecia que 15% das cadeiras nos legislativos deveriam ser ocupadas por mulheres. No país, a representação feminina nos parlamentos é de apenas 9,9%. É a pior média da América do Sul. Na Bolívia, por exemplo, elas ocupam 53% do parlamento. Nas principais casas legislativas da Paraíba, os percentuais são ainda menores: apenas 8,33% dos assentos na Assembleia Legislativa são ocupados por mulheres. Nas Câmaras de Vereadores de João Pessoa e Campina Grande, a representação cai para 7,41% e 4,35%, respectivamente.
No Congresso Nacional, a representatividade da mulher na bancada paraibana é simplesmente inexistente. Na votação, que ocorreu na última terça-feira, 9 dos 12 deputados paraibanos votaram a favor da matéria. Os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP) e Pedro Cunha Lima (PSDB) se posicionaram contra a criação da cota, enquanto o deputado Benjamin Maranhão (SD) se absteve da votação. Por se tratar de uma PEC, a medida precisava de 308 votos a favor, mas recebeu apenas 293. Os votos contrários foram 108 e a abstenção chegou a 53.
A deputada estadual Estela Bezerra (PSB) lamentou o resultado da votação. Para a parlamentar, a cota é essencial para mudar o perfil atual da política. “O perfil de quem está hoje na política é masculino e com poder econômico, ou seja, quem é homem e tem dinheiro tem o poder. É preciso criar mecanismos para igualizar. Infelizmente a Câmara não fez mudanças importantes até agora, pelo contrário, criou um fosso ainda maior e mostrou que não está disposta a criar mecanismos para mudar a política”, disse.
Para a parlamentar, a mulher tem uma forma diferente de enxergar o mundo, o que pode fazer a diferença na criação de políticas públicas. “A mulher tem uma formulação diferente do que é importante na vida social e esta contribuição tem sido podada por um sistema masculino, que não está disposto a abrir espaço para uma participação maior. Se você observar, a reforma política não mudou nada de interessante. É uma vergonha”, criticou.
Já a ex-deputada Nadja Palitot (PT) acredita que a mudança deve ocorrer, primeiro, nas mulheres. “As mulheres, mesmo sendo a maioria do eleitorado, ainda não perceberam o poder que elas têm com relação à ocupação do poder político. Houve um avanço no ambiente da Justiça, no Ministério Público, mas não na política, que é justamente onde está a maior concentração do poder. Neste quesito nós não avançamos”, avaliou.
Para Nadja, as mulheres precisam de mais incentivo para entrar na política e este incentivo deve vir, especialmente, daquelas que já ocupam cargos no Executivo e Legislativo. “As mulheres que detêm mandatos deveriam reforçar esse apoio às mulheres. Não se trata de mulher apoiar mulher simplesmente pelo fato de ser mulher, mas pela conscientização de que a mulher é competente para ocupar esses espaços”, afirmou.
Das mulheres que ocupam cargos nas principais casas legislativas do Estado, quase todas vêm de famílias tradicionais na política. É o caso das deputadas Camila Toscano (PSDB) e Daniella Ribeiro (PP) e das vereadoras Raíssa Lacerda (PSD), Elisa Virgínia (PSDB) e Ivonete Ludgério (PSB). A exceção é a deputada Estela Bezerra (PSB).
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