Festival de Inverno recebe espetáculo de dança de Antônio Nóbrega

Astier Basílio
Do Jornal da Paraíba

Antônio Nóbrega já está ficando praticamente sócio de nossos eventos culturais. Em novembro do ano passado, o pernambucano foi a atração das comemorações do centenário do teatro Santa Roza - veio para cantar. Como músico, novamente, voltou à Paraíba em maio deste ano, como atração do Fenart. Exatamente dois meses depois, Nóbrega dá, mais uma vez, o ar de sua graça. Ele se apresenta nesta terça-feira (27) no 35º Festival de Inverno de Campina Grande.

A diferença é que, desta vez, Nóbrega vem com um espetáculo de dança. Naturalmente - Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira, que estreou no ano passado e foi vencedor do prêmio APCA na categoria “pesquisa”, é uma espécie de aula-espetáculo. É um tipo de apresentação bem ao gosto do que ensinou o seu mestre Ariano Suassuna, criador do movimento Armorial, do qual Nóbrega é um dos representantes mais genuínos. O formato multidisciplinar, que a aula-espetáculo sugere, também foi adotado por Nóbrega em outras ocasiões, sobretudo em seus espetáculos de dança anteriores.

Em cena, Nóbrega será acompanhado de oito músicos que tocam instrumentos de corda, sopro, teclado e percussão. No palco, haverá ainda a presença de Maria Eugênia Almeida e Marina Abib que, juntamente com Nóbrega, são autores da coreografia. Com trilha executada ao vivo, o elenco faz evoluções que passeiam por danças populares, folguedos. A trilha, como era de se esperar, apresenta um apanhado de muito bom gosto e, aos que pensam que haveria só música nacional, uma surpresa.

Além de medalhões de nossa música popular como Jacob do Bandolim e Dominguinhos, Nóbrega ginga ao som de Bach, do compositor francês Erik Satie e do músico italiano Nino Rota, conhecido autor de inesquecíveis trilhas para cinema, a exemplo de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Copolla e de grandes filmes da cinematografia italiana, como As Noites de Cabíria, A Doce Vida e Oito e Meio, de Fellini, além de Rocco e seus irmãos, de Luchino Visconti.

Ligação com Campina

Nóbrega tem uma ligação muito forte com Campina Grande. Muitos títulos de sua extensa biblioteca de literatura de cordel contém obras que vieram da cidade. Quando o Quinteto Armorial se desfez, muitos músicos foram trabalhar na Universidade Federal da Paraíba - atual UFCG - à exceção de Nóbrega, que continuou em Recife.

Em entrevista, o músico e dançarino já falou que na infância ia com a família para longas viagens para a cidade de Lavras da Mangabeira, no sertão do Ceará, terra dos parentela de seu pai. Antes de chegar ao roteiro desejado, Nóbrega contou que sua família costumava parar em cidades paraibanas, entre elas Patos e Campina Grande. “(...) por diversas vezes, nelas chegávamos em dias de feira e, assim, tinha a oportunidade de ver e sentir de perto o povo do sertão. Essa é uma das ligações possíveis da minha infância com o encontro posterior que tive com os artistas populares”.

Além de dançar e tocar, Nóbrega também representa. Durante muito tempo interpretou o personagem Tonheta, espécie de brincante. Tanto no teatro como na música, Nóbrega contou com a participação e a parceria de um paraibano também múltiplo em se falando de arte, Braulio Tavares. Ele é autor do texto teatral Brincante, como também assina parceria em várias composições “Carrossel do Destino”, “O Rei e o Palhaço”.

Ver Nóbrega em cena é perceber o refinamento de todo um manancial de referências de ritmos e culturas.