Sinônimo de vergonha para uns e de falta de higiene para outros, o mau hálito ou halitose é um problema que traz incômodo e pode desencadear situações constrangedoras. Quem tem, geralmente não percebe e poucas pessoas têm coragem de chegar para outras e contar sobre o odor desagradável. As causas podem ser as mais variáveis possíveis, desde sinusite crônica a cirrose hepática ou diabetes. A Associação Brasileira de Halitose (ABHA) estima que pelo menos 30% dos brasileiros tenham o problema.
Na maioria dos casos, cerca de 90%, a causa é decorrente de doenças periodontais ou da presença de depósitos bacterianos sobre a língua, conforme explicou a periodontista do Atelier do Sorriso, Ana Cláudia Queiroz Vanderlei. Doenças do trato respiratório, como sinusites crônicas, obstrução nasal, abcesso nasofaríngeo ou bronquites podem causar o mau hálito. “Pode ser também consequência de doença sistêmica, como cirrose hepática ou diabetes mellitus, ou ainda em decorrência de problemas no sistema digestório”, afirmou Ana Cláudia.
A periodontista Ana Cláudia Queiroz Vanderlei explica as causas do mau hálito. (Foto: Francisco França)
A halitose também pode ser causada pelo uso de alguns medicamentos, como antidepressivos, tranquilizantes, anti-histamínicos, descongestionantes, anti-hipertensivos e agentes cardíacos. Esses remédios produzem xerostomia ou 'boca seca', em consequência da redução do fluxo salivar, podendo assim, também, gerar a halitose, segundo explicou a periodontista.
Ela explicou que o paciente, geralmente, desconhece que tem mau hálito porque o olfato se adapta rapidamente ao odor, “fazendo com que ele seja incapaz de mensurar seu hálito”. De acordo com Ana Cláudia, pessoas próximas, muitas vezes, se sentem constrangidas em informá-lo da situação.
Por outro lado, há pessoas que se dizem possuidoras de halitose, quando, na verdade, não a possuem, segundo a periodontista. Esses casos são classificados como halitofobia ou halitose fictícia. “A 'halitofobia' é, na realidade, um problema psicológico e o paciente deve ser encaminhado a um tratamento com psicólogo, pois os tratamentos convencionais da halitose são ineficazes”, frisou.
Segundo Ana Cláudia, a halitose deve ser compreendida como um transtorno multifatorial, cujo tratamento envolve, além de vários especialistas da odontologia, outros profissionais da área médica, como gastroenterologistas e otorrinolaringologistas. “Uma vez diagnosticada corretamente, o tratamento primário deve ser baseado no combate à causa que determina a produção de gases voláteis, causadores do mau hálito e complementando com a higiene adequada”, afirmou.
Dentes quebrados ou canais abertos também podem ser a causa da halitose. “Os problemas bucais que envolvam o acúmulo de bactérias, como as doenças periodontais, estão relacionados com a halitose devido à destruição tecidual causada pelas bactérias que se acumulam nessas regiões, provocando a liberação dos sulfidretos, responsáveis pelo odor desagradável”, explicou Ana Cláudia. Isso acontece porque a limpeza nas cavidades não lisas, onde o alimento se deposita e atrai as bactérias, é mais difícil.
Alimentos aumentam produção de halitose
Chocolate é um dos alimentos que podem provocar o mau hálito, diz especialista. (Foto: Rizemberg Felipe)
Quando o assunto é mau hálito, alguns alimentos costumam ser lembrados e apontados como vilões, a exemplo do alho e da cebola, o que não deixa de ser verdade. Contudo, eles não são os únicos a causar o odor desagradável, segundo explicou a periodontista Ana Cláudia Queiroz Vanderlei. Entram na lista também o leite integral e seus derivados, bebidas alcoólicas, queijo de cor amarela (mais ricos em gordura), frituras, alimentos gordurosos em geral, azeitonas, ovos, dentre outros.
“Podemos citar também os condimentos, maionese, azeite, chocolate, manteiga, creme de leite, salame, presunto, mortadela, couve, couve-flor, brócolis, repolho, sardinha em lata, alcachofra, catchup e mostarda”, disse a periodontista. A halitose se inicia alguns minutos ou horas após a ingestão do alimento e dura até seu completo metabolismo, podendo variar de pessoa para pessoa.
De acordo com a periodontista, existem, no mercado, aparelhos para medir a quantidade de gases. Há também o teste organoléptico, no qual, o dentista pede ao paciente que ele respire profundamente pelas narinas e expire pela boca, enquanto o profissional avalia o ar, colocando-se a uma distância aproximada de 20 centímetros do paciente. O teste classifica a halitose em uma escala de 0 a 4, onde o 0 representa ausência de odor; 1 odor natural; 2 halitose da intimidade; 3 halitose do interlocutor; e 4 halitose social.
Em casa, é possível fazer um teste mais simples, que consiste em lamber o antebraço, passando toda a língua, e cheirar em seguida. Outra forma de tirar essa dúvida, segundo a periodontista, é perguntar para uma criança, “pois elas não ficarão constrangidas em falar a verdade”. Além de manter uma boa higiene bucal, com fio dental, escovação frequente e enxaguante, um especialista deve ser procurado para que se tenha um diagnóstico correto.
Outra causa frequente do mau hálito são os 'cáseos amigdalianos', que são massas viscosas amareladas de odor extremamente desagradável podendo ser expelido durante a fala, tosse ou espirros. “Sua composição consiste de células epiteliais descamadas da mucosa oral, proteínas salivares e restos proteicos alimentares, que servirão de substrato alimentar às bactérias anaeróbias”, explicou. Ao final do metabolismo bacteriano, os compostos dão ao hálito um cheiro característico de enxofre ou ovo estragado.
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