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Síndrome de Burnout: o que é, como tratar e quais os direitos do trabalhador

Síndrome de Burnout foi reconhecida pela OMS como uma doença ocupacional há apenas um ano. A ação garantiu direito ao auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.

Publicado em 29/04/2023 às 16:22


                                        
                                            Síndrome de Burnout: o que é, como tratar e quais os direitos do trabalhador
A obra "Sociedade do Cansaço" ajuda a entender problemas da sociedade atual. Foto: Reprodução/Unsplash

“Eu senti que tirei um peso das costas”, afirmou João Carlos Ribeiro, de 24 anos, que pediu demissão de uma empresa de telemarketing após ser diagnosticado com a Síndrome de Burnout. Em tradução livre, o termo significa “queimar-se por dentro” e tem relação com rotinas exaustivas de trabalho. A Organização Mundial da Saúde reconheceu a síndrome como uma doença ocupacional em janeiro de 2022.

Segundo João Ribeiro, ele vivia uma rotina estressante com seus chefes e com o atendimento ao cliente. Entre as 60 ligações diárias, ele presenciou punições injustas no ambiente de trabalho e recebia vários xingamentos por parte dos clientes. Nesse período, sua depressão foi agravada e ele deixou de fazer refeições constantes. De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas também podem incluir sentimentos de fracasso, insegurança e incompetência, cansaço excessivo, insônia e alterações do apetite. 

Apesar do laudo médico de diferentes profissionais que acompanhavam o seu caso, ele foi informado que iria precisar por uma consulta com o médico do trabalho vinculado à empresa, que não foi capaz de determinar o distúrbio. Por isso, ele não foi afastado do trabalho e continuou realizando suas atividades com uma jornada reduzida e de home office

A mudança não foi suficiente, levando o jovem a pedir demissão da empresa com o objetivo de buscar uma rotina mais saudável. Segundo ele, após se afastar da empresa, ele voltou a se alimentar, não tem mais crises depressivas e começou a se exercitar. 

“Quando eu saí, me respeitei pela primeira vez em 1 ano e 1 mês que estive lá”, afirmou João Ribeiro.

O reconhecimento da OMS permitiu que os trabalhadores com a síndrome pudessem pedir afastamento das atividades com recomendação médica, auxílio-doença, garantia de estabilidade e, em casos mais graves, aposentadoria por invalidez. A doença tem tratamento, é possível ser evitada e as empresas possuem um papel essencial no desenvolvimento da síndrome.

Trabalhador com Síndrome de Burnout pode ser afastado?

A Síndrome de Burnout, depressão, ansiedade e outros transtornos mentais, podem motivar um afastamento do trabalho. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2021 foram concedidos 9.519 auxílios-doença motivados por transtornos mentais e comportamentais acidentários urbanos, que são casos relacionados diretamente ao trabalho em regiões urbanas. As mulheres representam 62% do total de beneficiários.

Distúrbios mentais e comportamentais estão em terceiro lugar no ranking, perdendo apenas para doenças relacionadas aos ossos, músculos e tecido conjuntivo (30.208), que está em segundo lugar, e lesões, envenenamento e acidentes por causas externas (97.280), que ocupa o primeiro. Os transtornos mentais e comportamentais acidentários urbanos também ocupam o terceiro lugar em aposentadorias por invalidez em 2021, registrando 38 casos.

O advogado trabalhista João Leôncio explica que o laudo médico emitido por um profissional capacitado, seja ele vinculado ou não à empresa, pode atestar a doença e requisitar o afastamento do trabalhador por tempo determinado ou indeterminado. A partir do afastamento, a empresa é responsável pelo pagamento do salário por 15 dias iniciais. Após o período, o profissional deve ser encaminhado, pelo empregador, ao INSS, para que peça o benefício previdenciário adequado até o dia que possa retornar às suas atividades.

“Não havendo dúvidas que a doença adquirida se originou em decorrência da atividade exercida pelo trabalhador, lhe causando danos severos e irreversíveis, este ainda pode fazer jus ao pagamento de uma indenização por danos morais”, destaca o advogado. 

Outro motivo que pode gerar indenização é o descumprimento ao “período de estabilidade”. O trabalhador afastado por doença ocupacional tem direito a estabilidade de um ano contado da data de retorno ao trabalho. De acordo com o advogado, a dispensa pode ser considerada discriminatória e pode gerar uma indenização por danos morais ao trabalhador. 

Como tratar a Síndrome de Burnout?

Os trabalhadores devem ser encaminhados para tratamento e acolhimento psicológico assim que os primeiros sintomas de esgotamento aparecerem. Os psicólogos e os psiquiatras são os profissionais capacitados para fazer um diagnóstico médico e, dependendo do caso, podem indicar a necessidade do afastamento do trabalho. O tratamento é realizado com psicoterapia, mas também pode ser necessário consultar um psiquiatra, que vai receitar medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos. 

Associado ao tratamento, também é preciso realizar mudanças nas condições de trabalho, nos hábitos e estilo de vida. Atividades físicas regulares e exercícios de relaxamento devem ser incluídos na rotina, com objetivo de aliviar o estresse e controlar os sintomas. O Ministério também indica que, após o diagnóstico, o trabalhador tire férias e desenvolva atividades de lazer com amigos, familiares e cônjuges.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento leva de um a três meses para surtir efeito, mas pode demorar mais, dependendo do caso. O tratamento pode ser acessado de forma gratuita e integral pelo Sistema Único de Saúde, por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

É possível evitar um Burnout?

O Ministério da Saúde afirma que é possível prevenir a Síndrome de Burnout a partir de estratégias focadas em diminuir o estresse e a pressão no trabalho. Identificar os sintomas no início é tão importante quanto assumir condutas saudáveis que evitam o desenvolvimento da síndrome. 

Para diminuir o risco, é importante manter um equilíbrio entre o trabalho, lazer, a vida social e atividades físicas. O trabalhador pode escolher alguém de confiança para conversar sobre o que está sentindo e começar a fazer atividades que fujam da rotina, como passear, comer em restaurantes ou ir ao cinema. Não é indicado a automedicação e o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas que podem aumentar a confusão mental.

O que as empresas podem fazer em casos de Burnout?

De acordo com a professora de psicologia da UFPB, Thaís Máximo, os gestores precisam estar atentos às mudanças de comportamento dos profissionais, que geralmente estão muito envolvidos e empenhados até que começam a se afastar do trabalho. Ela destaca que é importante perceber os primeiros sinais de esgotamento e, principalmente, não esperar que a doença aconteça.

A pesquisadora explica que questões organizacionais do trabalho, como assédio moral, metas abusivas, falta de reconhecimento, falta de perspectiva de crescimento no trabalho e relações interpessoais difíceis podem levar ao adoecimento mental. Essas ações interferem diretamente nos resultados da empresa, dos funcionários, gerando desmotivação, faltas ou atrasos e até conflitos.

“A discussão da saúde mental é muito importante, mas antes de tudo, a gente pensar em formas de gestão que promovam a saúde e não a doença. A gente sempre fala: trabalhar sim, adoecer não”, explica a professora. 

É importante também criar setores de saúde e acolhimento e formar os gestores para que percebam os sinais e sintomas de transtornos mentais na equipe. A vergonha gera resistência para falar sobre o assunto e a situação já está agravada quando os profissionais procuram ajuda, além de serem penalizados e não cuidados, destaca Thaís Máximo.

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Grace Vasconcelos

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