COTIDIANO
13 Reasons Why e o suicídio como trágica experiência familiar
Publicado em 04/05/2017 às 6:40 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Nos meus 25 anos de televisão, suicídio, como regra, sempre foi assunto proibido. Para não estimular ninguém a cometer o gesto. A exceção era para pessoas públicas, quando a morte e a causa desta não podiam ser omitidas.
Agora, o jogo Baleia Azul e sobretudo a série 13 Reasons Why colocam o tema em debate. Nas redes sociais e na mídia.
Vou contar uma história. Não vou me alongar.
O nome dela era Ofélia. Como a Ofélia de Hamlet. Ideia do pai, devorador de livros. Tristeza da filha, que não gostava do nome.
O pai se chamava José. A mãe, Stella. Vieram do Brejo para a capital com os filhos.
Em meados dos anos 1940, Ofélia era uma moça que começava a se projetar com seus dotes artísticos na pequena João Pessoa.
Pintava. Escrevia poesia. Tocava violino na primeira Orquestra Sinfônica da Paraíba, regida pelo maestro Picado.
O pai, orgulhoso, acompanhava a filha nos concertos no Cine Plaza.
Veio o amor. Ofélia, nos seus vinte e poucos anos, conheceu um rapaz. Talvez parente de um dos seus muitos alunos de inglês. Viveram intensamente aquela paixão. Certamente, ultrapassaram os limites da época. Ela era uma mulher avançada para o seu tempo, diziam seus contemporâneos.
A relação acabou. O rapaz conhecera outra moça.
Ofélia ficou deprimida. Não aceitava o rompimento.
Uma tarde, chamou a amiga Maria José para uma sessão de cinema no Rex. Na saída, pararam para um café no centro da cidade. Ali mesmo, ela tomou o veneno que pôs fim à sua vida.
A família nunca se recuperou. Os sobrinhos que não conheceram a tia cresceram ouvindo suas histórias, vendo as fotos, as telas penduradas na parede da sala, lendo a poesia que ela deixou. E testemunhando a tristeza que se abateu sobre todos.
Um dia, muitos anos depois, um desses sobrinhos percebeu, com uma certa estranheza, que o avô José, ao contrário da maioria das pessoas, não gostava de música.
Quis saber o motivo e ouviu como resposta:
Seu avô baniu a música da vida para sempre quando sua tia Ofélia se foi com o violino dela!
A explicação ficou para o garoto como tradução do poder devastador que o suicídio tem sobre uma família.
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