COTIDIANO
15 travestis foram vítimas de quadrilha de prostituição internacional
Jovens travestis eram levados para itália. Grupo era comandado pelo paraibano Isnard Alves Cabral e pelo italianao Paolo Simi.
Publicado em 15/07/2010 às 17:00 | Atualizado em 26/08/2021 às 23:36
Da Redação
O Ministério Público Federal na Paraíba anunciou, em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (15), que pelo menos 15 pessoas teriam sido vítima, entre 2005 e 2007, da quadrilha que praticava tráfico internacional de pessoas, levando travestis paraibanos para se protituirem na Itália.
De acordo com as informações do MPF, as vítimas identificadas não estariam mais trabalhando na Itália e já retornaram as cidades de origem. Há suspeitas de que o grupo possa ter feito outras vítimas.
O grupo era comandado pelo paraibano Isnard Alves Cabral e pelo italianao Paolo Simi. A quadrilha ainda contava com os paribanos José Fernandes Gorgonho Neto, Sérgio Inocêncio da Costa, Luciano de França Costa e José de Arimateia Farias Duarte Júnior.
Na coletiva estavam presentes o procurador-chefe da Procuradoria da República na Paraíba Victor Carvalho Veggi e a procuradora do caso Ilia Freire Fernandes Borges. Os dois revelaram como funcionava a rota de tráfico: a quadrilha aliciava os travestis nos municípios paraibanos, como Araçagi e Mulungú, e os encaminhava paras as cidades de São Paulo ou Rio de Janeiro. De lá eles partiam para pequenas cidades da Itália e logo ao chegarem iam para a cidade de Roma de trem ou táxi.
O aliciamento ocorria através de falsas promessas aos jovens, que eram seduzidos pela expectativa de obter vultosos lucros, quando na verdade, durante o período em que permaneciam na Itália eram vítimas de exploração, de agressões físicas e de ameaças. Os aliciadores custeavam a viagem das vítimas para a Itália, bem como suas estadias naquele país, mas em troca cobravam exorbitantes quantias, vinculando os travestis a dívidas que nunca tinham fim, além de reter os seus documentos, impossibilitando o retorno ao Brasil.
Atuação da quadrilha
A quadrilha funcionava de forma articulada: um grupo era responsável pelo aliciamento dos jovens travestis, outro cuidava da documentação, das despesas e do procedimento necessário para o embarque das vítimas para a Itália, e um outro grupo tinha a função de alojar as vítimas em território italiano, forçá-las a vender drogas e explorá-las sexualmente, mediante o emprego de ameças e de coação física. A motivação financeira norteava toda a atuação do grupo, pois os custos estimados para o envio da vítima ao exterior eram da ordem de R$ 6 mil, enquanto que a quadrilha cobrava do aliciado, em média, a quantia de R$ 40 mil pelas despesas.
Os aliciadores eram, em sua maioria, travestis que enganavam as vítimas com falsas promessas de lucro fácil na Europa e abordavam jovens pobres de pequenos municípios paraibanos. Após o aliciamento, membros da quadrilha recebiam as vítimas em João Pessoa e providenciavam toda a documentação necessária à viagem para a Itália, inclusive indicavam as rotas que mais interessavam ao objetivo criminoso, em que a probabilidade de fiscalização policial era menor. A quadrilha atuava desde 1999, somente finalizando suas ações em 2007 quando houve a prisão de seu líder em território italiano.
O fato veio à tona através de matérias publicadas na imprensa paraibana em 2006, informando que rapazes homossexuais paraibanos haviam embarcado para a Itália para atuar como profissionais do sexo e estariam sendo levados para Roma, por meio de agenciadores ou “cafetinas”, que lucravam alto com a exploração da prostituição. Diante dessas informações, a Polícia Federal instaurou inquérito policial, composto por dois volumes e quatro apensos, contendo material probatório referente a informações bancárias e gravações de interceptações telefônicas.
O Ministério Público pediu a condenação dos denunciados nas sanções dos artigos 231 (tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual) e 288 (quadrilha ou bando) do Código Penal Brasileiro. Como Isnard Alves Cabral e Paolo Simi residem na Itália, o MPF requereu a expedição de cartas rogatórias e seu encaminhamento ao Ministro da Justiça, nos termos do 783 do Código de Processo Penal. Também requereu ao governo italiano a citação dos referidos denunciados.
Confira a seguir quem são os denunciados e a participação de cada um na quadrilha especializada em agenciar jovens travestis na Paraíba:
Isnard Alves Cabral: responsável pela articulação e coesão dos demais membros. Cabia-lhe a função de aliciar as jovens vítimas, usando falsas promessas e fazendo referência ao seu suposto exemplo de sucesso. Em Roma, possuía diversas casas para alojar os travestis aliciados, que eram mantidos em grupos e tinham que pagar pela estadia. Cobrava valores extorsivos referentes às despesas com a documentação e a viagem para a Roma, bem como exigia uma parte do dinheiro que era obtido com a prostituição. Foi preso pela Polícia Italiana em razão das atividades ilícitas que exercia naquele país.
Paolo Simi: italiano, exercia, juntamente com Isnard Alves Cabral, posição de liderança na quadrilha, já que ambos eram donos de casas de prostituição em Roma e controlavam, na maioria das vezes, a partir da Itália, o esquema de tráfico internacional de pessoas da Paraíba para aquele país. Paolo destacava-se também como financiador do esquema criminoso, tendo inclusive chegado a ser sócio majoritário da empresa Brasitália Viagens e Turismo Ltda ME, juntamente com Luciano de França Costa. Paolo Simi entrou e saiu do Brasil por várias vezes entre 2002 e 2006, evidenciando a ligação e a participação deste acusado na quadrilha que traficava pessoas do Brasil para a Itália, para fins de prostituição. Foi preso na Itália, juntamente com Isnard Cabral.
José Fernandes Gorgonho Neto: pertencia ao grupo dos aliciadores, sendo responsável por ludibriar as vítimas, convencendo-as com falsas promessas de lucro fácil na Itália. Também acompanhava as vítimas em suas viagens para a Europa, conduzindo-as às casas de prostituição mantidas pela quadrilha. Consta na denúncia que, em 7 de março de 2007, José Fernandes partiu de João Pessoa com destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, conduzindo um grupo de pessoas para a Itália com o único objetivo de servirem à prostituição.
Sérgio Inocêncio da Costa: pertencia ao grupo dos aliciadores, sendo responsável por ludibriar as vítimas, convencendo-as com falsas promessas de lucro fácil na Itália. Promoveu, em março de 2007, a saída de quatro jovens brasileiros para a Itália para fins de prostituição. Ainda desempenhava outra função importante dentro da organização criminosa, pois tinha como uma de suas atribuições administrar a casa de prostituição na Itália, na qual ficavam alojados os jovens aliciados no Brasil.
Luciano de França Costa: atuava principalmente na parte financeira da quadrilha, executando, entre outras atividades, a compra de passagens utilizadas pelos membros da organização criminosa e pelos aliciados. Foi sócio da empresa Brasitália Viagens e Turismo Ltda ME, juntamente com o também acusado Paolo Simi.
José de Arimateia Farias Duarte Júnior: também pertencia ao grupo dos aliciadores, viabilizando a saída de pessoas para o exterior para fins de prostituição. Há provas de que ajudou, pelo menos, quatro rapazes a irem para a Itália.
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