COTIDIANO
A Academia Sueca não é lugar para Bob Dylan!
Publicado em 11/12/2016 às 10:32 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:49
Acho muito importante que Bob Dylan tenha sido premiado com o Nobel de Literatura pela Academia Sueca. A escolha traz o reconhecimento da sua geração no campo em que o artista atua há mais de meio século.
Digam o que quiseram dizer os contestadores de plantão, o Nobel é, sim, uma grande premiação. Almejada por quase todos.
O anúncio foi feito em outubro. Seguiu-se o silêncio do homenageado. Depois, a surpresa e um agradecimento. Por fim, o anúncio de que não iria à solenidade de entrega do prêmio.
Neste sábado (10), na cerimônia em Estocolmo, foi representado pela cantora Patti Smith e mandou um discurso, belo, elegante e muito bem escrito.
Vi as imagens e fiquei pensando:
Claro que, na velhice, nenhum desses artistas conserva mais o espírito rebelde da juventude. Eles foram colhidos pela indústria do disco, pelo mundo do espetáculo, e, assim, ficaram ricos e famosos.
Mas não vamos imaginar que tudo está restrito ao in gold we trust.
Se há, nessa geração, alguém que conservou algo da juventude, esse alguém é Bob Dylan. No seu recolhimento, no seu jeito estranho de ser, na sua postura de crooner pelo avesso, Dylan, velho e com a voz destruída, consegue, a um só tempo, o milagre de ser e não ser do mainstream.
Lembrei de Gilberto Gil. Depois da prisão, indo para o exílio, fez o seguinte com um prêmio que deram a ele: aceito + recuso = receito.
Dylan fez assim. Aceitou, mas recusou.
E acho que acertou, não indo a Estocolmo.
Vi pela pompa toda da festa: a Academia Sueca não é lugar para Bob Dylan!
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