COTIDIANO
Ben, Ben Jor. Não importa. Jorge é um inventor!
Publicado em 04/07/2017 às 7:21 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:44
Nunca me acostumei com a mudança de nome para Ben Jor. Até hoje, prefiro Jorge Ben.
Do jeito que era na época em que comecei a ouvi-lo, no final da década de 1960, na fase em que se aproximou do Tropicalismo. Vinha da Bossa Nova e passara também pela Jovem Guarda, com seu jeito absolutamente original de compor, cantar e tocar sambas.
Ben é um inventor. Os sambas em tom menor com os acordes que utiliza, o modo com que se acompanha ao violão (mais tarde, à guitarra), as letras sem similar na MPB – tudo nele é singular, único. E era novíssimo, no instante em que foi revelado com o LP Samba Esquema Novo. É lá que estão seus primeiros sucessos, os hits que o projetaram: Mas Que Nada, Chove Chuva e Por Causa de Você, Menina.
Três discos sintetizam os fundamentos do seu trabalho: Samba Esquema Novo (1963), Sacundin Ben Samba (1964) e Ben É Samba Bom (1964).
O impacto provocado por Samba Esquema Novo foi tão grande que Gilberto Gil, ainda na Bahia, ficou desnorteado em relação ao seu futuro musical. E enxergou naquelas músicas a semente do que o Tropicalismo viria a ser. Por mais que se guiasse pela intuição, o jovem Ben se aparelhara na noite carioca, frequentando o Beco das Garrafas, e já havia nele uma nítida vocação para as fusões que iriam transformar a música popular brasileira nos anos seguintes.
Em sua extensa produção, os discos que prefiro são aqueles que vão do LP de 1969 (não tem título, apenas o nome do artista e os sucessos País Tropical e Charles Anjo 45) até o de 1976 (África Brasil), quando trocou a Philips pela Som Livre. Se ouvirmos esta fase da sua carreira, vamos encontrá-lo trabalhando com o que aprendera na Bossa Nova, na Jovem Guarda e no Tropicalismo. E com todas as outras influências que recebeu, das matrizes africanas, da soul music, do rock.
Jorge Ben recorre a tudo isto sem jamais abrir mão da sua singularidade, da sua assinatura. Aquilo que um maestro, certa vez, chamou de “estilo Jorge Ben”. Chamou e colocou na partitura, na falta de uma definição melhor.
No livro 300 Discos Importantes da Música Brasileira, organizado por Charles Gavin, aparecem três de Jorge Ben: Samba Esquema Novo, A Tábua de Esmeralda e África Brasil.
Há outros muito bons. Ben, que traz o primeiro dos diversos registros de Taj Mahal, e Força Bruta são excepcionais. Assim como o álbum-duplo Ogum-Xangô, que gravou com Gilberto Gil em 1975. Duas vozes, dois violões, contrabaixo e percussão em intermináveis improvisações. Eric Clapton viu de perto, numa jam no Rio, e ficou perplexo. Deve ter identificado, no canto e nas cordas, o que o deslumbrou no blues.
Salve, Jorge!
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