COTIDIANO
BIU RAMOS DO TEXTO IMPECÁVEL
Publicado em 29/07/2018 às 7:56 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:38
O jornalista e escritor Severino (Biu) Ramos morreu neste sábado (28), em João Pessoa.
Tinha 79 anos e estava internado no Hospital Memorial São Francisco.
Conheci Biu no final da década de 1970. Entrei para a API quando ele era presidente da entidade.
Naquele momento, eu tinha grandes restrições a Biu por causa da postura dele em relação aos professores não paraibanos que vieram atuar na UFPb.
Somente alguns anos mais tarde mensurei a sua dimensão humana e profissional.
Não éramos íntimos. Ele era amigo de amigos meus. E foi por causa destes que estive perto de Biu, ouvindo suas histórias, aprendendo a admirá-lo.
Dizer que a imprensa paraibana fica mais pobre com a sua morte é um clichê. Mas é absolutamente verdadeiro.
Biu Ramos era um dos grandes. Um dos maiores que tivemos por aqui em nossas redações. Outros clichês de quem está procurando palavras que se aproximem do tamanho dele.
Texto jornalístico misturado com texto literário. Texto de altíssima qualidade. Era isso o que tínhamos em Biu. Fosse nas páginas dos jornais, fosse nos livros que publicou. Reportagem e literatura fundidas na reconstituição corajosa de crimes que abalaram a Paraíba. Biografias escritas com uma invejável fluência.
No começo, ainda muito jovem, foi um grande repórter no Correio da Paraíba de Teotônio Neto. Lá na frente, se transformou num excepcional colunista político. Era naturalmente polêmico, sabia provocar, sem nunca abrir mão do texto impecável que tinha.
No início dos anos 2000, convivemos nos corredores e salas da Rede Paraíba de Comunicação. Eu, chefe de redação da TV Cabo Branco. Ele, colunista do Jornal da Paraíba. Eu passava dos 40. Ele, dos 60. Foram ali nossas melhores conversas. Às vezes, com a presença de Erialdo Pereira, que comandava a equipe da TV e o levara para o jornal.
Um livro autografado por Zé Lins. Outro por Jorge Amado. Um disco de música erudita. Um comentário sobre a cena política. Ou sobre o novo filme de Vladimir Carvalho, seu amigo querido. Essas conversas eram preciosas. Estavam entre as melhores que a gente podia ter nas redações.
Sou de uma geração que aprendeu muito com elas.
E que teve o imenso privilégio de ser contemporâneo de jornalistas como Biu Ramos.
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