COTIDIANO
Bossa nova mesmo é ser presidente desta terra descoberta por Cabral
Publicado em 22/10/2018 às 7:10 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:37
Brasil já vai à guerra, comprou um porta-aviões Um viva pra Inglaterra de oitenta e dois bilhões Mas que ladrões
Ouvi na infância, naquele 78 rpm que havia entre os discos do meu pai.
No lado B, o protesto dava lugar a uma terna modinha:
Na alameda da Poesia Chora rimas o luar Madrugada e Ana Maria Sonha sonhos cor do mar Por quem sonha Ana Maria, Nesta noite de luar?
Este é o Juca Chaves mais remoto que está guardado na minha memória afetiva.
Nesta segunda-feira (22), ele faz 80 anos.
Um cançonetista satírico que surgiu durante a Bossa Nova e, embora inicialmente confundido com ela, era o antibossanovista por excelência.
A definição, perfeita, é de Caetano Veloso. Está no livro de memórias Verdade Tropical.
Confundir Juca Chaves com a Bossa Nova não foi o único equívoco cometido em torno da sua figura e da música que produziu na fase de maior reconhecimento popular.
Mais tarde, já na ditadura militar, muita gente enxergava nele um destemido cantor de músicas de protesto, o que seria impensável sob governos de exceção.
O LP com o chamativo título de As Músicas Proibidas de Juca Chaves era, na verdade, uma compilação de canções compostas para satirizar os governos democráticos de JK e Jango.
Bossa nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral Para tanto basta ser tão simplesmente Simpático, risonho, original.
O Juca Chaves muito ouvido na época da ditadura, nos anos 1970, era o desse disco, vendido sob um lacre escuro e proibido para menores de 18 anos.
Não era censura política, coisa nenhuma. Era muito mais marketing da gravadora.
No registro ao vivo, o artista contava piadas cheias de palavrões e interpretava algumas canções novas.
Chamado de menestrel, Juca Chaves passou a usar um alaúde adaptado para funcionar como um violão.
Nos seus 80 anos, pode ser lembrado como o cara que fez canções de protesto em governos democráticos e como um divertido contador de piadas.
Também como o boa vida que, ao divulgar seus shows, pedia que o público ajudasse o Juquinha a comprar seu caviar.
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