COTIDIANO
‘Botei o inimigo em casa’, diz mãe de jovem que acusa padre de abuso
Família dá entrada em ação por danos morais contra Igreja Católica. Padre é acusado de algemar ex-coroinha para obrigá-lo a fazer sexo.
Publicado em 25/05/2010 às 14:46
Do G1
Foi entre lágrimas que a mãe do rapaz que acusa um padre polonês de tê-lo algemado na casa paroquial para fazer sexo deu entrevista ao G1. “Botei o inimigo dentro de casa, pensando que meu filho estava bem amparado e estava pisando em cima de um campo minado sem saber”, desabafou ela, que pediu para não ser identificada. O padre se entregou à polícia na última sexta-feira (21), um dia após ter sua prisão decretada pela Justiça.
“Ele frenquentava a minha casa e eu freqüentava a casa paroquial. É muito difícil, muito dolorido mexer nisso tudo de novo. Ver a foto dele sendo preso não diminui a nossa dor, mas sabemos que a história toda só está começando agora”, contou ela, que descobriu o episódio cerca de um ano após ter acontecido, ao desconfiar do comportamento agressivo do filho e resolver entrar em sua caixa de emails.
Família vai processar Igreja
O advogado da família Peron Cavalcante, que pretende entrar com um processo cível de danos morais contra a Igreja Católica, conta como mudou o comportamento do ex-coroinha. “Ele era uma pessoa dócil e comunicativa e de repente ficou agressivo e fechado. Ela (a mãe) pegou a senha dele e descobriu emails do padre de cunho pornográfico. Ela começou a pressionar até que e o menino falou. Aí eles procuraram a delegacia”, diz.
“O processo será contra a igreja, que é a responsável. O padre foi só um preposto e é o principal objeto da investigação criminal. O episódio aconteceu dentro de suas dependências”, explicou Peron. Ele pretende que o pároco, inicialmente indiciado por atentado violento ao pudor, responda também por corrupção de menores.
Igreja não se pronunciou
Isto porque, segundo a família, o padre, de origem polonesa, se aproveitou da condição de confessor e instrutor espiritual do rapaz para tentar seduzi-lo. Em depoimento, de acordo com o advogado, o religioso teria dito que a vítima é homossexual e o episódio aconteceu com seu consentimento.
Procurada pelo G1, a Arquidiocese do Rio ainda não se pronunciou sobre o processo. Mas, na última sexta-feira (21), a instituição anunciara o afastamento do religioso.
Como foi
Segundo a denúncia do Ministério Público, o jovem era coroinha da igreja até 2006. No início de 2007, o adolescente foi procurado pelo padre com uma oferta de ajuda financeira para a família. Na saída, ele teria puxado o rapaz à força e o beijado. O passo seguinte do religioso, de acordo com o documento, teria sido o envio de mensagens de cunho erótico via internet.
Ainda de acordo com o documento, o padre chamou o então adolescente à igreja e o algemou na cama da casa paroquial. Lá, ele teria despido o menor e praticado sexo oral, além de uma tentativa frustrada de penetração. No final, o pároco pôs dinheiro no bolso da vítima, exigiu segredo do acontecido e o coagiu, afirmando que já sabia as flores que depositaria em seu caixão caso a notícia viesse à tona.
‘Masmorra erótica’
No processo, o juiz Alexandre Abraahão Dias Teixeira, da 1ª Vara Criminal de Bangu, na Zona Oeste do Rio, escreve que, via internet, o padre “descreve uma intensa vida sexual com outros”, “tudo levando a crer, até mesmo pelas suas preferências sexuais, que fossem outros jovens no meio religioso”. Na decisão, o magistrado afirma que o sacerdote fez da casa paroquial uma “masmorra erótica”.
“O indícios apontam o indiciado como uma pessoa compulsivamente ligada a sexo com adolescentes, demonstrando sua franca capacidade de usar da sua postura de padre para executar a ‘lavagem cerebral’. (...) No seio destas conversas o acusado arregimentava este rebanho de inocentes jovens para levá-los a sua Casa Paroquial, subestimando sua alta relevância espiritual para transformá-la numa espécie de ‘masmorra erótica’ onde submetia estes jovens, inclusive com emprego de algemas, as orgias descritas entre risos nas ‘conversinhas’ mantidas com seus amigos na internet. A liberdade do acusado põe em sério e concreto risco a garantia da ordem pública, em especial o bem estar da juventude religiosa que frequenta as igrejas”, diz o documento.
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