COTIDIANO
Disco de blues dos Rolling Stones só veio na velhice
Publicado em 05/01/2017 às 6:24 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:47
Os Rolling Stones sempre tocaram blues.
O nome da banda vem de um clássico do blues.
Eles não seriam o que são sem o blues.
Mas esperaram pela velhice para gravar um disco inteiramente dedicado ao gênero.
Imaginemos um artista brasileiro da geração dos Stones. Chico Buarque? Ele não é do rock, mas ilustra bem o que quero dizer.
Então, que tal Chico Buarque gravando um disco somente com velhos sambas de Ismael Silva, Geraldo Pereira, Wilson Batista?
Foi mais ou menos o que os Rolling Stones fizeram em Blue and Lonesome.
Numa trajetória de mais de meio século, o grupo já gravou muitos blues. Autorais e não autorais. Mas eles aparecem soltos na extensa discografia.
Blue and Lonesome é um tributo que o grupo devia aos seus fãs. E uma homenagem que os Stones precisavam fazer ao gênero. Eric Clapton, que participa do disco, fez o mesmo antes dos 50, em From the Cradle.
O disco de Clapton tem o perfeccionismo como marca. E há o virtuosismo do guitarrista.
O dos Stones é mais despojado. Meio sujo, gravado em poucas sessões. Ao vivo em estúdio. Mesmo assim, é muito correto.
Está lá o respeito às matrizes. A mesma reverência às fontes que temos em Clapton e em outros músicos brancos do Reino Unido um dia atraídos pela força dessa música criada pelos negros da América.
Quando tocam esses velhos blues, os Rolling Stones soam como os Rolling Stones. A intimidade com o repertório é tão grande que eles se apropriam das músicas como se fossem seus autores. Talvez por essa razão Blue and Lonesome tenha tanta unidade.
Os Rolling Stones demoraram muitos anos para fazer um disco assim. Foi bom. Fizeram com sabedoria, com experiência. Com salutar distanciamento.
Já olham tudo de longe! Nós também!
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