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COTIDIANO

Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19

Renata Maurício decidiu ser enfermeira ainda criança, após a morte do pai.

Publicado em 16/07/2021 às 20:30 | Atualizado em 18/07/2021 às 12:36


                                        
                                            Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Renata Maurício e a mãe, Francisca

				
					Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Renata Maurício e a mãe, Francisca: a primeira a ser vacinada por ela. Renata Maurício e a mãe, Francisca

Renata Maurício Araújo tinha 13 anos quando perdeu o pai vítima de um câncer de estômago que o levou apenas seis meses depois do diagnóstico. Desses, três foram internos no Hospital Laureano Wanderley, referência no atendimento oncológico em João Pessoa. Ela acompanhou o pai ao longo desse período final de sua vida e se impressionou com o trabalho cuidadoso dos enfermeiros, decidindo ali que era isso o que queria fazer da vida. Foi o que aconteceu. O tempo passou, ela se formou, começou a trabalhar e, 20 anos depois, em meio a uma das maiores pandemias que o mundo já enfrentou, ela se diz completamente emocionada por já ter vacinado pessoalmente a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19. O último deles, a propósito, foi nesta sexta-feira (16).

Ela explica também que lhe marcou profundamente um pedido feito pelo seu pai ainda no leito de morte, para que a filha sempre tivesse a preocupação de cuidar das pessoas, de proteger o próximo. Foram experiências, pois, que a marcaram para sempre.

“Tudo o que eu vivi naquele hospital eu resgatei para a minha vida profissional”, destaca Renata, que hoje tem 33 anos e é técnica de enfermagem e enfermeira.


				
					Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Renata Maurício decidiu ser enfermeira ao ver a dedicação desses profissionais em cuidar de seu pai, que morreu de câncer quando ela tinha 13 anos. Renata Maurício, enfermeira

Não foi um processo fácil. Nem rápido. Que contou com muito apoio de sua mãe, Francisca dos Santos Araújo (69 anos); e de sua irmã mais velha, Rosângela Maurício dos Santos (46 anos). Ambas, em diferentes momentos da vida, foram responsáveis pela sua criação. Isso porque, depois da morte do marido, Francisca passou por uma profunda depressão, de forma que foi Rosângela quem assumiu as responsabilidades da casa nesse período. E, em meio a tudo isso, Renata não esquece do que ambas fizeram por ela.

“Posso dizer que eu vacinei as minhas duas mães. Aquelas que me criaram e que lutaram para que eu estudasse, não desistisse, seguisse em frente até me formar”, emociona-se.

				
					Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Rosângela, a irmã e segunda mãe: "Vacinei as minhas duas mães". Rosângela, a irmã e segunda mãe

A mãe foi vacinada em abril, ainda no grupo prioritário, por ser idosa. Mas não foi fácil. Resistia à ideia de se vacinar, influenciada por notícias falsas que colocavam em dúvida a eficácia dos imunizantes. Foi um trabalho lento, paciente, de convencimento e esclarecimento. “Minha mãe não acreditava na vacina. Mas, com muito carinho, com muita paciência, consegui mudar o pensamento dela”, comemora.

E quando finalmente aplicou a vacina nela, a apoteose: “Voltei ao meu passado naquele momento. Minha mãe nunca desistiu de mim. Sempre me incentivou a estudar. É uma sensação que eu não sei explicar de fato”.

Na sequência, veio a irmã, segunda mãe. Renata comenta que Rosângela dedicou toda a sua vida para cuidar dos irmãos, e que isso não dá para ser esquecido. A enfermeira explica também que o sentimento de realização foi parecido, o amor igual ao que sentiu e sente pela mãe. “Foram atos que levaram muito amor ao meu coração”.

Finalmente, o irmão cuja idade é mais próxima da dela. Sérgio tem 35 anos e foi vacinado nesta sexta-feira (16). Renata não estava na escala de vacinação neste dia, mas deu um jeito de chegar ao local por volta das 16h apenas para imunizar o irmão. "Eu fiz questão”, diz aos risos.

Segundo ela própria, Sérgio é o mais chorão dos irmãos. E, após a vacina, não deu outra. O rapaz caiu no choro, se arrepiou com os aplausos que saíram de todo o ginásio e, sem conseguir se segurar, quebrou até o protocolo, dando um braço apertado na irmã enfermeira.

“Foi a maior alegria. Ele se emocionou demais. Começou a chorar”, descreve a irmã.

				
					Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Muita emoção de Sérgio ao ser vacinada pela irmã mais nova. Muita emoção de Sérgio ao ser vacinada pela irmã mais nova

Uma mulher dedicada à comunidade

Renata Maurício trabalha na Unidade de Saúde da Família de Paratibe II, numa área periférica de João Pessoa, considerada uma das poucas áreas rurais da cidade e onde tem inclusive uma comunidade quilombola instalada. Uma região pobre, em que muitas pessoas não têm nem mesmo condições de se dirigir ao posto de saúde procurar atendimento. Pois é justo lá onde ela trabalha. E, garante, foi uma opção dela mesma. “Eu trabalhava numa outra parte da cidade, mas pedi transferência”, destaca ela, que nos finais de semana entra na escala de vacinação contra a Covid-19 organizada pela Prefeitura.

Mesmo também formada em enfermagem, na USF ela atua como técnica de enfermagem. Fazendo o primeiro atendimento, realizando a triagem, acolhendo as pessoas, tirando dúvidas e ouvindo o que elas têm a dizer.

“Muitas vezes, o paciente só quer ser ouvido”, ensina Renata.

Ela reafirma que esse amor por cuidar, por acolher, vem de criança, dos tempos de seu pai, e foi se fortalecendo com os anos. “Não fui eu quem escolhi a enfermagem, foi ela quem me escolheu”.

Ademais, frisa que gosta mesmo é de lidar com os mais necessitados, de estar nas comunidades, realizar as visitas domiciliares e atender aqueles enfermos que não têm condições de ir ao posto de saúde.  “É um trabalho cansativo, mas que gera muito prazer profissional”.

Renata se diz feliz com seu trabalho. Explica que não se vê fazendo outra coisa. E que ainda pretende vacinar em breve um irmão mais velho que já poderia ter se vacinado, mas segue resistente à ideia.

Sobre a questão, a propósito, ela manda um recado a quem está receoso de tomar os imunizantes. “A vacina é para estar no braço das pessoas. Ela salva vidas e é eficaz independente de fabricante. Tem muita gente politizando a vacina, contra a vacina, mas com muita luta a gente vai vencer”, declara. “É uma luta incansável, mas a gente não vai desistir”, finaliza.


				
					Enfermeira se emociona ao vacinar a mãe e dois de seus irmãos contra a Covid-19
Sérgio comemora a vacinação ao lado da esposa Mayara e da fila Sara. Sérgio com a família
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Phelipe Caldas

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