COTIDIANO
Erialdo Pereira nasceu há 70 anos
Publicado em 02/08/2018 às 7:06 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:38
O amigo, conheci em 1978.
Erismar, um colega de escola, me disse: "Você, que vai fazer jornalismo, precisa conhecer meu irmão".
Era Erialdo Pereira. Estava voltando do Rio, anos no Jornal do Brasil, recomeçando a vida em João Pessoa.
Tinha o cabelo black power, a barba fechada e a ideia de fazer um filme sobre nosso poeta Caixa D´Água.
Tomávamos cerveja e comíamos pipoca num lugar chamado La Cave, ali na Padre Meira.
O profissional, conheci na TV Cabo Branco.
Foram 18 anos de convivência e muito aprendizado. Ele, na editoria geral. Eu, na chefia de redação.
Quando olho, de longe, para aquele tempo, me vem o ensinamento: "nunca devemos ser açodados". Sempre que sou, na vida ou no trabalho, fico profundamente arrependido.
Erialdo formou equipes. Formou profissionais. E desempenhou papel fundamental na consolidação do jornalismo das TVs Cabo Branco e Paraíba.
Ele foi o principal responsável pela definição de como seria o jornalismo das duas emissoras e o homem que esteve à frente da consolidação desse projeto.
Os jornalistas que integraram as equipes das duas afiliadas Globo na Paraíba devem muito a Erialdo. Ao seu nível de exigência, sua sabedoria, suas críticas, seus afagos, sua ética, seu bom senso, sua luta cotidiana pela credibilidade. Além do raro equilíbrio que mantinha, posicionado entre os dois polos que representava, a equipe e a empresa.
Com ele, ouvimos todas as vozes, dialogamos com a comunidade, valorizamos o conhecimento, investimos na memória, apostamos nas novas tecnologias.
Fizemos jornalismo pensando na notícia e na prestação de serviço, comemorando os êxitos e administrando os obstáculos.
Sempre guiado - e a nos guiar - por valores e conceitos permanentes, mas cada vez mais escassos.
O gosto pelo bom texto.
A informação correta.
O esforço contínuo contra o erro.
O senso ético.
A ponderação.
O debate permanente sobre os conteúdos produzidos.
Suas lições, para mim, passam por cidadania, legalidade, conquistas, avanços, pelos anseios de liberdade de quem se fez profissionalmente num país sob governos de exceção.
Erialdo e suas conversas, que iam da Rádio Nacional ao Jornal do Brasil, dos encontros com Vladimir Carvalho ao quarto de pensão dividido com Manfredo Caldas ou aos textos escritos para Eliakim Araújo ler.
Dentro de tudo, o jornalismo, o papel da imprensa nas democracias, os nossos limites - conversas que incorporavam conhecimento ao difícil exercício cotidiano.
A redação de Erialdo contrastava com o excesso de objetividade das redações de hoje. Era muito mais rica em discussões, menos pragmática. Mais humana, menos fria. A permitir mais compartilhamento.
Erialdo Pereira morreu em julho de 2016.
Se estivesse vivo, faria 70 anos nesta quinta-feira, 02 de agosto.
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