icon search
icon search
home icon Home > cotidiano
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

COTIDIANO

"ETA confiava em suas forças depois do 11 de Setembro"

Em entrevista ao Opera Mundi, Florencio Dominguez observou que o aparato militar da ETA analisou corretamente as consequências dos ataques contra as Torres Gêmeas e o Pentágono.

Publicado em 11/09/2011 às 8:00 | Atualizado em 26/08/2021 às 23:29

Alfonso Daniels (Opera Mundi)
De Londres


Frequentemente o enfraquecimento do grupo ETA (Euskadi Ta Askatasuna, basco para Pátria Basca e Liberdade) é analisado em paralelo com os atentados de 11 de Setembro de 2001, que completam 10 anos este mês. No entanto, de acordo com Florencio Domínguez – um dos maiores especialistas no ETA na Espanha e redator-chefe da agência de notícias Vasco Press –, a crescente debilidade do ETA, que anunciou um cessar-fogo "permanente, geral e verificável" em janeiro de 2011, nada tem a ver com o acontecimento nos Estados Unids.

Em entrevista ao Opera Mundi, Dominguez observou que o aparato militar da organização basca analisou corretamente as consequências dos ataques contra as Torres Gêmeas e o Pentágono: a antiga guerra contra o comunismo se transformaria em guerra contra o terrorismo.

Mesmo assim, e contra todas as previsões, o grupo decidiu prosseguir com seus grandes atentados e, poucos dias depois, explodiu um carro-bomba diante de um edifício emblemático do País Basco. Porém, acrescenta o especialista, o mundo também mudou para eles neste dia. Isso porque os governos europeus finalmente se viram forçados a sentar-se à mesa e aprovar a Euroordem, facilitando a extradição de etarras à Espanha e aumentando assim a pressão judicial sobre um dos grupos terroristas mais longevos – e cada vez mais isolados – da Europa.

O 11 de Setembro provocou o declínio do ETA e acabou levando ao anúncio de cessar-fogo permanente?

O ETA analisou corretamente as consequências do 11 de Setembro, mas decidiu continuar atacando, ao contrário do que ocorreu com o IRA (Exército Republicano Irlandês, desmantelado em setembro de 2008). Em documentos da organização datados de setembro de 2001, os responsáveis pelo aparato militar concluíram que o contexto internacional não lhes seria favorável. Consideraram que o que antes era uma aliança contra o comunismo se transformaria em uma aliança contra o terrorismo, que foi justamente o que aconteceu. Mas isso não os levou a mudar de estratégia.

Ainda assim, o ETA reduziu a intensidade de seus ataques depois dos atentados contra os EUA?

De modo algum. O ETA confiava em suas próprias forças depois do 11 de Setembro. De fato, em outubro de 2001, o grupo explodiu um carro-bomba diante do Palácio de Justiça de Vitória, um edifício de vidro em pleno centro da cidade. Houve apenas um ferido, mas o impacto midiático foi enorme. Lembro que a CNN o qualificou de "atentado espetacular". Em dezembro de 2006, eles explodiram a T-4 de Barajas [prédio de estacionamento do aeroporto de Madri] e, meses depois, atacaram um centro de turismo.

O ETA não temia uma reação do governo espanhol, apoiado pela comunidade internacional?

Não foi a primeira vez que o ETA analisou corretamente o contexto internacional e, ainda assim, decidiu continuar atacando, fossem quais fossem as consequências. O grupo fez isso, por exemplo, nas negociações com o governo espanhol em Argel em 1989. O governo argelino os ameaçou se eles rompessem as negociações, e eles o fizeram. Como resultado, Argel expulsou os refugiados etarras.

O 11 de Setembro serviu ao menos para que os EUA ajudassem a Espanha contra o ETA?

Os EUA apenas ofereceram ajuda simbólica, sem participar de operações policiais, salvo em pouquíssimas ocasiões. Em 1986, por exemplo, a CIA vendeu ao ETA mísseis adulterados com uma baliza localizadora para que a polícia espanhola pudesse detectar os terroristas. Mas estas ações são a exceção.

Mas outros países, como a França, começaram a colaborar mais ativamente contra o ETA a partir do 11 de Setembro...

A França já estava colaborando com o governo espanhol. O que acontece é que as coisas foram se depurando. O 11 de Setembro serviu, isso sim, para melhorar a coordenação antiterrorista internacional e afinar procedimentos jurídicos de extradição. Às vezes, passavam-se anos para que se conseguisse extraditar um etarra para a Espanha. Alguns regulamentos remontavam ao século XIX. Mas, com o 11 de Setembro, foram aplicadas as recomendações do informe Watson e surgiu a Euroordem, ou ordem de extradição europeia. Agora, se um juiz espanhol pede uma extradição, é como se ela fosse pedida por um juiz francês, o que faz com que um processo demore apenas dois ou três meses.

Suponho que os ataques contra os EUA tenham motivado a base etarra a questionar a continuação da estratégia de atentados...

Não foi assim. O fato de o IRA se desarmar teve muito mais efeito nas bases do ETA.Um informe interno etarra que circulou um mês antes do desarmamento do IRA garantia que isto nunca aconteceria, pois o exército britânico tampouco iria se desarmar. E aconteceu. Isso levou muitos a acreditar que o ETA deveria seguir seus passos e abandonar a luta armada.

Imagem

Jornal da Paraíba

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp