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COTIDIANO

'Eu já me sinto preso, só não estou numa cela', diz ex de Mércia

Em entrevista ao G1, Mizael fala em se entregar se Justiça decretar prisão. Ele, que usa colete à prova de bala, quer que outros sejam investigados.

Publicado em 24/07/2010 às 11:57

Do G1

“Eu já me sinto preso. A única diferença é que só não estou numa cela”, diz Mizael Bispo de Souza. É com essa frase que o advogado e policial militar reformado resume o sentimento de ser tratado como o principal suspeito de assassinar a ex-namorada, Mércia Nakashima. Em entrevista exclusiva ao G1, Mizael se disse obrigado a viver isolado e a usar um colete à prova de balas por causa de ameaças de morte.

Mizael corre também o risco de ser preso. A Polícia Civil paulista, que já o indiciou pelo crime, e o Ministério Público, que vai denunciá-lo à Justiça, querem pedir sua prisão preventiva para que ele fique preso até um eventual julgamento.

O ex-namorado e ex-sócio da advogada encontrada morta numa represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, nega o crime. Três dias após prestar seu quinto depoimento na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na capital paulista, depois de ter batido boca com o delegado Antonio de Olim, de deixar o prédio hostilizado pela população, e de sair de lá sem falar com a imprensa, ele recebeu o G1 nesta sexta-feira (23) no seu escritório e em sua casa em Guarulhos, na Grande São Paulo.

“Eu tenho a minha consciência tranquila que eu não matei Mércia e não matei ninguém. Eu não teria essa coragem”, declara Mizael. Apesar de acreditar que a investigação da polícia não possui elementos para que a Justiça decrete sua prisão preventiva, o advogado afirmou que, se isso ocorrer, pretende se entregar. “Se for decretada a prisão, eu vou cumprir e entraremos depois com todos os recursos possíveis.”

Quando chegou a ter a prisão temporária decretada pela Justiça, há quase duas semanas, Mizael não se entregou e chegou a ser considerado foragido. Com a revogação da prisão por um juiz, pôde voltar a circular pelas ruas, mas, mesmo assim, tem medo de ser agredido ou até morto. “Não tem sido fácil andar pelas ruas”, diz. “Não saio de casa sem colete à prova de balas. Recebi muitas ameaças.”

Mizael e o vigia Evandro Bezerra da Silva foram indiciados por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O segurança também nega o crime. Apesar disso, o vigilante chegou a dizer à polícia que ciúmes levaram Mizael a matar Mércia na represa de Nazaré Paulista em 23 de maio, e que ele mesmo ajudou o advogado a fugir. Depois, disse que acusou Mizael e confessou ter participado do crime sob tortura, conforme carta publicada na segunda-feira (19) pelo G1. Atualmente, o segurança está preso temporariamente em um distrito policial em Guarulhos.

Após desaparecer da casa dos avós em Guarulhos em 23 de maio, Mércia foi achada morta no dia 11 de junho na represa. Um dia antes, seu carro, um Honda Fit, foi localizado submerso no local. Uma denúncia feita por um pescador levou bombeiros à região. O pescador afirmou à polícia ter visto um homem não identificado sair do carro antes de o veículo entrar na água. Disse ainda ter escutado gritos de mulher.

De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), Mércia morreu afogada. Ela não sabia nadar. Antes do afogamento, aponta o laudo, ela levou um tiro que atingiu um braço e o queixo.

Lembranças de Mércia

“Vocês são a primeira equipe de imprensa que entram aqui”, diz o advogado ao abrir as portas de sua residência e mostrar objetos, como uma camisa azul e um frasco de perfume que ganhou de Mércia durante o relacionamento de quatro anos, encerrado no final do ano passado. “Foi ela quem terminou. Eu aceitei. Continuamos a sair, só como paquera somente. Mas até hoje uso no pulso a correntinha de ouro que ela me deu para usar no pulso e esta carteira.”

Ele diz que foi Mércia quem desenhou parte da casa e decorou tudo. “O quadro da sala compramos juntos, mas foi ideia dela”, fala Mizael, que tem contado com a ajuda de parentes para manter a casa em ordem. “A empregada não veio mais. Acho que é por causa da acusação contra mim.”

Mizael pensa em se mudar após o fim do caso, “talvez para um apartamento.”

Relação com Mércia

Mizael nega as acusações da família de Mércia de que ele teve uma relação conturbada com a ex-namorada. “Eles falam isso porque não conheciam muito bem a filha que tinham, a irmã que tinham, a neta que tinham”, contesta. “A gente era um casal muito feliz.”

Afirma que o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, era contra o namoro. “Inclusive ele já chegou a dar número de telefone da Mércia para amigos ligarem e cantarem a Mércia.” O G1 procurou Márcio para comentar o assunto, mas não o localizou.

Ligações telefônicas suspeitas

Mizael contesta também as ligações telefônicas apresentadas pela polícia. Fala que não foi ele quem ligou 40 vezes para Mércia, mas o inverso. Diz ainda que comprou um telefone com chip de outra pessoa por falta de opção na loja. De acordo com a polícia, Mizael fez isso para despistar a investigação e falar com o vigia Evandro Bezerra Silva, outro suspeito pela morte da advogada. Olim falou que os dois se falaram 16 vezes no dia do crime.

O advogado rebate. Afirma que passou a procurar mais o vigilante porque ele era seu “funcionário”, fazia segurança para ele em postos e feiras, e estava recebendo reclamações do trabalho dele nestes bicos. “Cobrava o serviço, qualidade do serviço”, diz Mizael. “Agora, 16 vezes eu tenho certeza que não liguei.”

Bate boca com delegado no DHPP

“Aquele é meu jeito de falar”, diz, a respeito do quinto depoimento, no qual discutiu com o delegado Antonio de Olim, do DHPP. A imagem foi divulgada pelas emissoras de televisão. Mizael afirmou que foi por conta de algumas críticas que ele ouviu do policial em semanas anteriores. “Uma acusação gravíssima dessa [de assassinato], realmente, você fica um pouco tenso.”

Investigação

Mizael afirmou que o DHPP só tem focado a investigação nele e precisa apurar outros suspeitos. “Como por exemplo esse boletim de ocorrência que peguei na Polícia Militar ontem [quinta-feira, 22]. Se apedrejaram o carro dela dentro do condomínio do irmão... O cara para fazer isso, ele tem que ter ódio da pessoa. Por que, como você vai no meu carro, quebra vidro, quebra farol, risca lateral, joga pedra no capô? Já imaginou se você me encontrar naquele momento? O que você faz comigo?”.

“A prova está aqui, foi ela que fez no ano de 2009. O fato aconteceu no dia 28 de outubro e ela me procurou no dia 29, toda indignada, transtornada para fazer essa ocorrência”, diz Mizael sobre o Citroën que Mércia teve.

“O Honda Fit dela foi riscado também, na garagem do pai, onde o pai mora. O pai gastou R$ 1.500 com câmera exclusiva na vaga onde ficava o carro dele e dela. O prédio tem câmera, o condomínio todo tem câmeras, mas o pai gastou R$ 1.500 com câmeras, isso já esse ano”, declara.

Segundo Márcio Nakashima afirmou nesta tarde no DHPP, o carro de Mércia foi danificado por crianças que teriam brigado por causa de uma pipa.

Memória de Mércia

Sobre Mércia, diz que era uma pessoa que amou “muito”. “Eu nunca nem tive tempo de chorar ou de sentir a falta que a Mércia me faz”, fala Mizael, que pensou em deixar flores no seu túmulo, mas desistiu da ideia porque tem medo de ser hostilizado ou agredido por alguém. “Tenho medo de atos de vandalismo acontecerem comigo. Senti vontade de ir no velório, senti vontade de ir para o enterro.”

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Jornal da Paraíba

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