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COTIDIANO

Falou e disse: "Sobre os textos motivadores"

Publicado em 10/11/2014 às 10:40

O professor Chico Viana associa a variedade de temas própria da crônica com reflexões e comentários sobre a língua portuguesa. Contato com a coluna:[email protected]

Saber usar os textos motivadores concorre para que se produza uma boa redação no Enem. Uma das funções desses textos é despertar ideias para o desenvolvimento do tema. Outra, não menos importante, é ajudar a manter o foco temático (o desrespeito ao foco é um dos problemas mais graves na produção textual).

O candidato deve aproveitar os textos motivadores sem copiar, pois cópias não são consideradas para a contagem do número de linhas e podem, quando em excesso, levar ao 0 (zero) (Cf. o Guia do Participante Enem 2013, p. 11).

O ideal é retirar de cada texto motivador as ideias principais, ou seja, fazer um resumo destacando os aspectos que eles enfatizam. Por exemplo: no Enem 2013, cuja redação tinha como tema “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”, lê-se no primeiro deles:

Qual o objetivo da “Lei Seca ao volante”?

De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a utilização de bebidas alcoólicas é responsável por 30% dos acidentes de trânsito. E metade das mortes, segundo o Ministério da Saúde, está relacionada ao uso do álcool por motoristas. Diante deste cenário preocupante, a Lei 11.705/2008 surgiu com uma enorme missão: alertar a sociedade para os perigos do álcool associado à direção.

Para estancar a tendência de crescimento de mortes no trânsito, era necessária uma ação enérgica. E coube ao governo federal o primeiro passo, desde a proposta da nova legislação até à aquisição de milhares de etilômetros. Mas para que todos ganhem, é indispensável a participação de estados, municípios e sociedade em geral. Porque para atingir o bem comum, o desafio deve ser de todos. (Disponível em www.dprf.gov.br . Acesso em: 20 jun. 2013)

O primeiro parágrafo traz informações que comprovam a influência do álcool em acidentes e mortes no trânsito, e mostra a importância da Lei 11.705/2008 para alertar sobre os riscos de associar álcool a direção. O segundo, a partir da conjunção adversativa (mas), cita uma condição para que a lei produza os seus efeitos: haver a participação de todos.

A eventual omissão de estados, municípios e da sociedade tornaria inúteis os esforços dos que se empenharam para criar e aprovar a nova legislação. Esse era um dado problemático, e praticamente se impunha ao candidato o dever de comentá-lo, discuti-lo, posicionar-se sobre ele. Isso poderia ser feito por meio da resposta a questões como: o que impede que estados e municípios participem do desafio de cumprir a lei? qual a melhor forma de estimular essa participação?

Há nos textos motivadores, como se vê, tópicos que se prestam à discussão e sugerem pontos de vista a ser adotados pelo candidato. A banca os seleciona por ver neles aspectos relevantes do tema. Por outro lado, aproveitar esses textos de modo algum significa ficar preso a eles. Limitar a argumentação às sugestões que trazem, ou aos questionamentos que propõem, pode gerar um texto repetitivo e dar a entender que o candidato não tem ideias próprias. É preciso usá-los como estímulos, referências, e não como camisas de força.

DE OLHO NO VESTIBULAR

Um erro pode determinar a penalização do candidato em mais de uma Competência exigida pelo Enem?

Sim. Como o texto é uma estrutura, as camadas que o constituem são solidárias, interferem umas nas outras. Um problema no emprego do pronome relativo, por exemplo, tanto constitui uma infração à norma quanto compromete a coesão. Nesse caso, o candidato é penalizado nas Competências 1 e 4. Semelhantemente, o uso inadequado de um vocábulo pode comprometer a coerência, o que representa uma infração às Competências 1 e 3 (o item “precisão vocabular”, por sinal, é mencionado nas instruções referentes a essas duas).

TIRE SUA DÚVIDA

E-mail de Carlos A.: “Professor o certo é ‘doa a quem doer’ ou ‘doa em quem doer’? Obrigado.”

O verbo “doer” pode ser intransitivo, ou seja, não pedir complemento (“Com a claridade, meu olho dói”). E pode também ser transitivo indireto. Neste caso, permite que o objeto indireto seja introduzido tanto por “a”, quanto por “em”.

A construção com “a” é mais antiga, conforme demonstra este exemplo de Machado de Assis: “Não porque lhe doessem (ou seja, doessem a ele) as palavras que dissera um dia, mas por causa do tio, que ignorava tudo.” Modernamente, tornou-se comum a flexão do verbo com a preposição “em” (“Seu gesto grosseiro doeu em mim”).

PALAVREANDO

Reflexão pós-eleições: o poder é algo muito cobiçado para ser perseguido com equidade, senso de justiça, respeito pelo outro.

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Dinheiro não faz falta. Faz faltar.

Originalmente publicado no Jornal da Paraíba, no dia 9 de novembro de 2014.

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Alô Concurseiro

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