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COTIDIANO

Fechamento da Livraria Cultura do Paço Alfândega é notícia triste

Publicado em 08/07/2018 às 17:27 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43

Uma notícia triste do final de semana: a Livraria Cultura do Paço Alfândega, no Recife Antigo, encerrou suas atividades.

O que há por trás?

A crise nacional?

A crise no mercado de livros e discos?

Uma questão judicial (como se especula)?

As três alternativas juntas?

Não sei. Só sei que me lembra muito uma outra lacuna aberta, anos atrás, no mesmo Recife, quando ocorreu o fechamento da Livro 7. Aquele imenso galpão na 7 de Setembro, entre a Conde da Boa Vista e o Parque 13 de Maio, era como um oásis no meio da correria da metrópole.

A Cultura do Paço desempenhou o mesmo papel. No início, alguns intelectuais recifenses, movidos por bairrismo e provincianismo, reagiram mal à chegada da empresa fundada em São Paulo por uma família de judeus. Não tardou,  e todos estavam lá a consumir produtos que andavam escassos no mercado local.

A livraria tinha uma oferta diferenciadíssima e um atendimento feito por jovens com notável identificação com o que vendiam.

Frequentei a Cultura do Paço assiduamente desde sua abertura, em 2004. Foram 14 anos. Tive a alegria de lançar em seu auditório o livro (do qual sou organizador) Cinema por Escrito, com as críticas de Antônio Barreto Neto, num debate com Jomard Muniz de Britto e o cineasta Kleber Mendonça Filho.

O fechamento da Livraria Cultura do Paço Alfândega?

Para mim, não houve qualquer surpresa. Testemunhei a sua lenta agonia. A seção de clássicos e jazz (uma verdadeira loja à parte) deu lugar a um espaço geek. Os lançamentos foram atrasando. Os funcionários qualificados, substituídos por gente que não sabia nem escrever os nomes dos títulos e autores procurados pelo cliente. Os espaços, rearrumados para disfarçar o esvaziamento da loja.

Estive lá pela última vez no dia 26 de junho. Não comprei nada. E saí certo de que a Cultura do Paço estava com seus dias contados.

Fecho com um post de Fábio Passadisco, dono de uma loja que sobrevive no Recife vendendo discos de música brasileira:

Quando vejo a maior livraria do Nordeste fechar as portas, fico imaginando qual será o nosso futuro.

Será que tudo será lido/visto/ouvido nas telas dos celulares?

E o prazer de folhear as páginas dos livros, as ilustrações e fotos. O cheirinho, o tato?

E os encartes dos CDs, as fichas técnicas, o projeto gráfico. O prazer de colocar o disco pra girar?

Eu não estou preparado para o futuro!

Imagem

Silvio Osias

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