COTIDIANO
Quem é quem em família de Patos, no Sertão da PB, investigada por fraudes em concursos públicos
Polícia Federal fez uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão e desarticular o grupo criminoso investigado.
Publicado em 08/10/2025 às 16:09

Uma investigação da Polícia Federal revelou um esquema de fraude no Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024 que envolvia pessoas de uma mesma família, um ex-policial militar condenado por tortura , além de outros suspeitos especializados no crime. Os investigados tinham base em Patos, no Sertão da Paraíba.
No último dia 2 de outubro, a Polícia Federal deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão e desarticular o grupo criminoso. Mandados foram cumpridos na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Os principais suspeitos são:
- Wanderlan Limeira de Sousa (ex-policial militar apontado como chefe do esquema)
- Wanderson Gabriel de Brito Limeira (filho do ex-policial militar)
- Valmir Limeira de Sousa (irmão do ex-policial militar)
- Larissa de Oliveira Neves (sobrinha do ex-policial militar)
- Antônio Limeira das Neves (irmão do ex-policial militar)
- Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior (membro da organização criminosa)
- Luiz Paulo Silva dos Santos (membro da organização criminosa)
- Thyago José de Andrade (chefe da organização criminosa)
- Geórgia de Oliveira Neves
- Laís Giselly Nunes de Araújo
Parte dos suspeitos chegou a fazer o CNU e foi aprovada para o cargo de auditor fiscal do trabalho, que tem salário de R$ 22 mil.
O Jornal da Paraíba explica quem é quem no esquema de família que fraudava concursos públicos:
Wanderlan Limeira de Sousa
Segundo a Polícia Federal, Wanderlan Sousa é ex-policial militar e responde por diversos crimes, como homicídio, roubo majorado, uso de documento falso, peculato, concussão e abuso de autoridade. Ele é apontado como o chefe da organização criminosa.
De acordo com as investigações, Wanderlan realizou a prova do Concurso Nacional Unificado (CNU) apenas para demonstrar aos “clientes” que a fraude era possível. Ele foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, mas não chegou a participar do curso de formação.
Wanderlan foi expulso da Polícia Militar da Paraíba em 2021. No ano anterior, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba manteve a condenação de seis anos de prisão pelo crime de tortura, além da perda do cargo público.
Wanderson Gabriel de Brito Limeira
Filho do ex-policial Wanderlan Sousa, Wanderson foi investigado por fraudar o concurso da Polícia Militar da Paraíba. Ele também é investigado por uso indevido de cotas sociais no Prouni.
O suspeito está preso desde julho de 2025, justamente por ser apontado nas investigações de fraudar o concurso da Polícia Militar.
Valmir Limeira de Sousa
Valmir é irmão do ex-policial militar Wanderlan Sousa. Ele também foi aprovado no concurso para auditor fiscal do trabalho, mas não chegou a ser chamado para o curso de formação devido à nota obtida na prova discursiva. As investigações, contudo, apontam que ele ainda poderia ser convocado em uma nova turma.
Larissa de Oliveira Neves
Larissa é sobrinha do ex-policial Wanderlan Sousa. Apesar de morar em São Paulo, ela optou por realizar a prova em Patos, na Paraíba. Segundo a PF, Larissa foi aprovada no concurso para auditor fiscal do trabalho e, com a ajuda do pai, buscou dar continuidade à fraude durante o curso de formação.
Antônio Limeira das Neves
Antônio Limeira é irmão de Wanderlan e pai de Larissa Neves. Ele é suspeito de auxiliar a filha, recebendo o gabarito e repassando para ela no dia da prova do CNU 2024.
Thyago José de Andrade
Conhecido como “Negrão”, Thyago é apontado como um dos líderes da organização criminosa. Ele seria o responsável por repassar as respostas das provas e cobrar dos candidatos pelos serviços de fraude.
A polícia também afirma que o suspeito possui um "staff de especialistas", desde falsificação de documentos, suborno de vigilantes e substituição de candidatos nas provas.
Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior
Ariosvaldo foi aprovado no concurso para o cargo de auditor fiscal do trabalho e é apontado como membro da organização criminosa. De acordo com as investigações, ele atuava como intermediário na venda de gabaritos de concursos públicos, repassando respostas a candidatos mediante pagamento.
Ele é policial militar no Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica em Patos, suspeita de ser usada para lavagem de dinheiro.
Luiz Paulo Silva dos Santos
Luiz Paulo também foi aprovado no concurso para o cargo de auditor fiscal do trabalho e é apontado como membro do grupo criminoso. Ele já foi preso suspeito de participar de mais de 60 certames.
Geórgia de Oliveira Neves
Também investigada, Geórgia é cunhada de Wanderlan. O relatório da Polícia Federal revelou que a suspeita depositou R$ 419,6 mil em espécie, mesmo sem vínculo empregatício desde 1998.
Laís Giselly Nunes
Companheira de outro suspeito no esquema, Thyago, Laís Giselly foi identificada pela PF como sendo uma das possíveis beneficiadas das fraudes. Ela é advogada e a suspeita é de praticar 14 fraudes em certames. A mais recente aprovação de Laís Giselly é no Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), que suspendeu o resultado do concurso público divulgado nesta semana.
O que dizem as defesas?
A defesa de Wanderlan disse que “aguarda o acesso a íntegra dos autos para tomar conhecimento e poder exercer o seu trabalho".
Os advogados de Wanderson disseram que "não foram notificados da decisão e não tiveram acesso integral aos elementos" do processo. Reiteraram também a confiança na Justiça e no sistema constitucional de ampla defesa.
A defesa de Valmir reconheceu a "legitimidade das investigações da Polícia Federal", mas sobre as conclusões considera “precipitadas”.
Os representantes judiciais de Antônio Limeira das Neves, Georgia de Oliveira Neves e Larissa de Oliveira Neves informaram que "os representados prestarão plena colaboração às autoridades" e que "qualquer denúncia formal ou imputação criminal contra os investigados" não foram feitas.
Os advogados de Thyago José e Laís Giselly Nunes de Araújo disseram que "tem certeza da inocência (dos representados) e dos equívocos neste processo".
A defesa de Ariosvaldo afirma que "não há qualquer vínculo entre o investigado e os fatos apontados, que se baseiam apenas em indícios" e que "será comprovada a inocência de Ariosvaldo".
Os advogados de Luiz Paulo não foram localizados até a última atualização desta reportagem.
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