COTIDIANO
Freixo, Crivella, Collor e o som de Lula
Publicado em 30/10/2016 às 10:04 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Partamos do pressuposto de que, por natureza, o jogo político nem sempre é muito verdadeiro. Consideremos que o que há são limites que não deveriam ser ultrapassados.
Vou dar um exemplo.
No debate histórico entre Collor e Lula, na eleição de 89, Collor ultrapassou esse limite quando disse que não tinha condições de possuir um aparelho de som igual ao de Lula.
Que bobagem, dirão alguns. Não! Não era bobagem! Collor, um homem rico. Lula, um homem pobre. Como este tinha um aparelho de som que aquele não poderia ter?
Até hoje, não sei ao certo o que levou Collor a fazer aquela afirmação, mas, para mim, ela teve uma grande força simbólica. Era como se ele fosse capaz de dizer (ou fazer) qualquer coisa, mesmo que fosse a mais descabida das mentiras. Mesmo o que não pode ser feito. Nem no jogo político.
Lembrei dessa história vendo, na Globo, o debate entre os Marcelos que disputam neste domingo (30) a prefeitura do Rio.
Freixo, o candidato do PSOL, partiu para o ataque. Crivella, do PRB, jogou na defensiva. Freixo parecia estar atuando dentro do que é permitido. Crivella, não.
As falas de Crivella davam a impressão de que, como Collor, ele faria (faz) qualquer coisa. A despeito do seu discurso religioso e do seu vínculo com uma igreja cristã. O episódio envolvendo a viúva de Amarildo é, no mínimo, nebuloso. E - convenhamos - não foi bem explicado pelo candidato.
Como show de televisão, o debate foi mais atraente do que muitos que tenho visto nos últimos tempos. As provocações, as acusações, o cinismo e a ironia como armas de defesa - tudo isso prende o telespectador. Ideias para a cidade, propostas, programa de governo? - não era o mais importante!
Freixo diz coisas nas quais é preciso acreditar nesses tempos de pouca crença no jogo político. Crivella atua num território que faz lembrar a história de Collor e o som de Lula. A julgar pelas pesquisas, é nas mãos dele que a prefeitura do Rio estará nos próximos quatro anos. A não ser que ocorra um milagre.
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