COTIDIANO
Futebol também é lição de gestão para líderes
Publicado em 09/06/2014 às 18:19
Motivar a equipe, cobrar produtividade, manter o foco nos resultados - essas são apenas algumas das metas que tanto os gestores de empresas como, também, os técnicos de futebol buscam nos campos e nos escritórios. Trabalhar de maneira balanceada, equilibrando o lado racional e o lado emocional, também, é outra característica imprescindível para um bom profissional. Embora a meta esteja em números (no placar do jogo ou nas receitas das empresas), o verdadeiro líder deve estar atento, principalmente, ao fato de que está gerindo pessoas, cada um com suas individualidades e, só assim, poderá ter uma equipe de sucesso, garantem os especialistas.
"Ambas as funções, seja um gestor de uma empresa, seja um técnico de futebol, exercem papéis de liderança. Toda equipe necessita de um líder, uma pessoa que seja o exemplo para sua equipe,", diz a psicóloga organizacional Anna Carolina Fernandes. E é esse líder que irá repassar a toda a equipe valores como, por exemplo, o da união. "Mesmo que a motivação seja algo que vem 'de dentro para fora', uma equipe que tem uma pessoa à sua frente produz de maneira mais eficaz. O senso de equipe, de união, é repassado a todos, e quando um membro da equipe não está indo bem, vem outro e lhe ajuda. O 'dar as mãos' faz toda a diferença", argumenta.
Para ser o líder de uma empresa de sucesso - assim como para ser o técnico de um time vencedor -, existem algumas pontos para os quais o profissional deve ficar atento: é necessário, por exemplo, conhecer um por um dos membros da equipe. "Existem alguns gestores mais 'aguerridos', focados literalmente em números e resultados, deixando de lado o trabalho humano e de gestão de pessoas", pontua a psicóloga organizacional Anna Carolina. Segundo ela, como em ambos os casos os profissionais lidam o tempo inteiro com pessoas, o líder precisa saber manter o equilíbrio e trabalhar de maneira racional e emocional com seus liderados. "O verdadeiro líder tem que procurar manter a 'balança' da razão e emoção equilibradas em prol da positividade de sua equipe", garante.
Assim como nos campos de futebol, para ser o líder de uma empresa é necessário ter uma tática, algum tipo de estratégia. "Uma empresa necessita conhecer bem o mercado do mesmo segmento que o seu para saber onde atuar", explica a psicóloga organizacional Anna Carolina Fernandes. Com essas informações em mãos, o líder poderá, assim, direcionar sua equipe e delimitar seu público alvo.
"Seja em qualquer função ou segmento, conhecer o adversário faz toda a diferença no seu modo de agir e atuar. Salientando que cada empresa, cada gestor, age baseado nos seus conhecimentos teóricos e práticos, associados à visão, missão e objetivos da empresa a qual faz parte", complementa a psicóloga.
"Treinar, treinar exaustivamente"
Caso o resultado obtido em uma partida (ou em uma transação comercial, por exemplo) não seja aquele desejado, não adianta se desesperar: na verdade, a função do líder, nesses momentos, é ainda mais importante. "No caso de um resultado negativo obtido pela equipe, cabe ao gestor visualizar os pontos falhos e trabalhar em cima desses pontos, muitas vezes sendo necessário mudar o plano de ação que a equipe deve atuar", diz a psicóloga. E mais: a criatividade do líder, nessas horas, faz toda a diferença. Trabalhar em equipe, então, ainda mais. "Nessas horas, faz todo sentido aquele ditado de que 'várias cabeças pensam mais e melhor que uma'", complementa.
Fora isso, é importante lembrar também que a experiência é fundamental. "Diante de resultados negativos não tem outra ação: é treinar, treinar exaustivamente. Nessa questão, o esporte é o grande modelo para qualquer líder", diz a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Paraíba, Maria da Penha dos Santos. Segundo ela, o ponto de partida para o líder nessas situações será sempre um questionamento: 'o que não está gerando resultados?'."O líder deve enxergar o ponto crítico da situação e trabalhar o que cada um da equipe tem de melhor. Ninguém motiva ninguém diretamente, mas pode criar meios de provocar no outro o motivo que o leva a querer fazer para vencer. É simples assim!", complementa.
E tem mais: de acordo com ela, o gestor deve ter em mente, também, que a vitória, seja em uma partida de futebol ou dentro de um escritório, não se resume apenas à um determinado momento - é um desenvolvimento contínuo. A equipe tem que trabalhar motivada para realização do projeto coletivo e isso só pode ser alcançado se o líder conseguir identificar pontos fortes e fracos, habilidades e talentos e desenvolver estratégias para somar esforços e criar sinergias. "Assim, se cria força para superar os obstáculos. Isso mostra o quanto a cooperação e o trabalho em equipe são fundamentais para o sucesso das pessoas e das organizações", afirma Maria da Penha.
O que o mundo corporativo espera dos seus líderes
Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria em recursos humanos, a Hunter Consulting Group, apontou um dado alarmante: o perfil dos profissionais que atuam em cargos de liderança em empresas no Brasil está bem longe do idealizado por eles mesmos. A pesquisa, realizada com 300 executivos de grandes empresas com atividade no país entre gerentes, diretores e supervisores, levou em conta três quesitos: as competências exigidas para cargos de liderança dentro das companhias em que os respondentes trabalham, o perfil que eles consideram ideal para um líder e as características verificadas na liderança atual dessas corporações.
Em primeiro lugar, foi questionado quais seriam as competências exigidas para cargos de liderança dentro das empresas em que trabalham. No topo das características apontadas, apareceu o foco em resultados, seguido da gestão de pessoas / desenvolvimento da equipe; orientação estratégica / visão sistêmica; bom relacionamento; comprometimento; confiança; e flexibilidade.
A pesquisa questionava, também, qual seria o perfil do líder ideal, ou seja, quais competências ou características deve apresentar um profissional modelo de liderança. A competência dos líderes mais citada como desejada pelos executivos foi a capacidade de promover o desenvolvimento de pessoas (88%), seguida da capacidade de conectar-se com os valores da empresa e de ser inspirador (79% ambas) e o fato de assumir riscos (68%). Algumas outras características também citadas foram ser empreendedor, justo, promover mudanças, inovador, colaborativo e negociador.
Em seguida, no entanto, foi questionado quais das competências apresentavam as lideranças da empresa em que trabalham. E é aí que vemos a distância entre o perfil dos profissionais que atuam em cargos de liderança em empresas no Brasil e o idealizado por eles mesmos. Acontece que a capacidade de promover o desenvolvimento de pessoas, a mais citada como sendo característica ideal, desta vez, alcançou a porcentagem de apenas 31%; já a capacidade de conectar-se com os valores da empresa alcançou somente 56%, valor bem diferente do que aparece como característica idea (79%).
No modelo percebido, aparecem como as características mais lembradas, além da competência de conectar-se com os valores da empresa (56%), o senso de urgência (48%), ser negociador (48%), político (47%), colaborativo (46%), conservador (44%), a informalidade (40%) e o fato de assumir riscos (36%).
A pesquisa contou com mais de 300 profissionais das principais empresas do Brasil, entre presidentes, VPs, diretores, gerentes, supervisores/coordenadores, BPs e analistas. Deles, 86% ocupam cargos de liderança, 56% trabalham em empresas multinacionais; 76% trabalham em empresas de grande porte; e 77% pertencem à área de RH.
Comentários