COTIDIANO
Em OK OK OK, Gilberto Gil leva muitos afetos para o palco
Publicado em 07/06/2019 às 8:22 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:35
Os músicos entram no palco do Teatro A Pedra do Reino às cinco da tarde.
Passagem de som é um barato.
Alguém puxa Upa Neguinho. Um adere à sugestão. Mais outro, mais outro. Nara Gil canta um pouquinho.
O rapaz do trompete gosta de Egberto Gismonti. É ele que toca Frevo. E Lôro, um maracatu que vira samba.
O clima é meio jazzy. Muito bom de ver e ouvir ali naquele teatro imenso e vazio.
Gilberto Gil entra no palco depois das seis.
Passagem de som com Gil é um barato total.
Ele faz o show quase completo.
Gil adora o palco. Gil é um grande homem de palco.
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Em seguida, tem a conversa no camarim.
Lembro do meu pai: "Sílvio, nada será tão sombrio quanto a gente teme".
Ao que Gil complementa: "Nem tão luminoso".
Segue-se o atendimento aos jornalistas.
Breves entrevistas, outra vez no palco.
Jackson do Pandeiro, Chuck Berry, etc.
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O show começa às nove e meia.
OK OK OK.
Todos querem a opinião do poeta.
Palavras dizem sim. Os fatos dizem não.
Ele vai falando de afetos. De pessoas. Família, amigos, médicos. Fala de finitude. E da circunstância em que as novas canções surgiram. Foram muitas. Geraram dois discos: o seu OK OK OK e o Giro, de Roberta Sá.
A banda é grande. Oito integrantes. Lá estão três dos seus filhos: Bem na guitarra, José (o caçula) na percussão e bateria, Nara (a primogênita) no vocal.
O set list traz o álbum OK OK OK quase na íntegra. Naturalmente, amplia as possibilidades das canções.
O repertório de hoje dialoga com o repertório de ontem.
As pérolas de ontem são deliciosos lados B.
O show vai crescendo, vai esquentando. Gil vai seduzindo a gente. Como faz todas as vezes em que sobe ao palco.
O pessoal, aqui, acolá, se mistura com o coletivo. Pro dia nascer feliz. Ou pra esse meu Brasil melhorar.
Marginália II, que dá conta do Brasil de 68, parece tão atual!
E ainda tem o poeta Mané Caixa D' Água, que vagava pelas ruas de João Pessoa:
"Deixe o poeta beber vento!" - está na memória afetiva de Gil. E na nossa.
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No backstage, depois do show, tudo é muito breve.
Uma foto, um autógrafo na capa do disco, a delicadeza com os que vão estar com ele na porta do camarim.
Na despedida, dou um abraço e um beijo no rosto do meu amigo e digo:
A vida nos dá presentes. Você é um presente que a vida me deu. Ou Deus.
E lá vem ele com os versos: "Que Deus dá, que Deus dá".
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