COTIDIANO
Livro de Nelson Motta tem equívoco sobre música de Caetano
Publicado em 05/01/2017 às 8:31 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:47
O jornalista, escritor e compositor Nelson Motta cometeu um equívoco em seu novo livro. Nada que comprometa a qualidade do trabalho. Estou lendo 101 Canções que Tocaram o Brasil com a admiração e o respeito que tenho pelo autor e por sua trajetória.
Registro o equívoco movido, sobretudo, pelo interesse que, como filho de astrônomo, tenho pelos temas ligados à conquista do espaço.
Quando eu me encontrava preso
na cela de uma cadeia
foi que eu vi pela primeira vez
as tais fotografias
em que apareces inteira
porém lá não estavas nua
e sim coberta de nuvens
Terra! Terra!
O equívoco está no texto sobre Terra, que começa com esses versos.
No livro, Nelson Motta diz que, quando estava preso, Caetano viu uma foto da Terra no espaço feita por um satélite artificial. Está errado.
As fotos que impressionaram o artista e, mais tarde, inspiraram a canção não foram feitas por um satélite artificial. Publicadas numa revista (a Manchete) que Caetano leu na prisão, as "tais fotografias" foram feitas pela nave Apollo 8. São históricas, belíssimas, impressionantes mesmo, as primeiras que mostram nosso planeta visto de longe, sob a perspectiva de quem está na órbita da Lua.
Pois é! Os três astronautas da Apollo 8 passaram o Natal de 1968 na órbita da Lua, numa missão preparatória para o voo de julho do ano seguinte, da Apollo 11, que levaria os primeiros homens ao solo lunar.
Há uma coincidência. Os astronautas da Apollo 8 voltaram à Terra em 27 de dezembro de 1968, o mesmo dia em que Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos em São Paulo e levados para o Rio de Janeiro, onde ficaram até o carnaval de 1969. À prisão, seguiram-se o confinamento em Salvador e, afinal, o exílio em Londres.
A canção, faixa de abertura do LP Muito, veio uma década depois. É uma das grandes canções de Caetano Veloso. Merecidamente, está entre as 101 que, segundo Nelson Motta, tocaram o Brasil.
Quando Terra foi gravada, em 1978, a ditadura que prendera o compositor já começava a entrar em seus estertores.
Comentários