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Maria de Lourdes, a menina assassinada que virou foco de devoção no Cemitério da Boa Sentença

Série 'Santinhas, as milagreiras da Paraíba' conta histórias de meninas consideradas santas populares.

Publicado em 09/05/2025 às 6:05

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Os cemitérios, considerados lugares tristes e até assustadores, às vezes, trazem a esperança das histórias dos milagreiros. Em João Pessoa, no Cemitério Senhor da Boa Sentença, um túmulo chama atenção pelos brinquedos, enfeites e estátua de uma criança. É onde está enterrada a menina Maria de Lourdes.

(Esta reportagem faz parte da série 'Santinhas, as milagreiras da Paraíba', que conta histórias de quatro meninas consideradas santas populares)

O túmulo de Maria de Lourdes é um dos primeiros do cemitério, à direita, logo após o portão de entrada. Nunca faltam flores, fitas coloridas, copos com água e ex-votos, que são esculturas ou outros itens oferecidos como agradecimento por uma graça alcançada. Na parte superior do túmulo, está escrito “exemplo de perdão e amor”.

Violência e injustiça

A história de Maria de Lourdes é contada pela oralidade. Segundo relatos, a menina, que tinha entre 13 e 14 anos, saiu do interior da Paraíba para trabalhar na casa de uma família na capital, uma realidade muito comum na época entre meninas pobres.

Após uma acusação de furto, Maria de Lourdes foi espancada até a morte, mas a patroa teria encontrado os objetos que acusara a menina de ter roubado, o que, segundo o pesquisador em antropologia Weverson Bezerra, fez com que a mulher perdesse sua sanidade mental.

“Quando a patroa encontrou os objetos, dizem que ela ficou 'doida', que acabou perdendo sua sanidade mental porque percebeu a injustiça”.


				
					Maria de Lourdes, a menina assassinada que virou foco de devoção no Cemitério da  Boa Sentença
Weverson Bezerra pesquisa a história da menina Maria de Lourdes.. Luana Silva/Jornal da Paraíba

Mesmo que a menina fosse culpada, a história já seria cruel, o que escalonou ainda mais com a descoberta de sua inocência. Weverson Bezerra, que se debruçou no caso de Maria de Lourdes em sua pesquisa sobre a antropologia da morte, destaca que a partir dessa injustiça, teve início a devoção em torno da menina.


				
					Maria de Lourdes, a menina assassinada que virou foco de devoção no Cemitério da  Boa Sentença
Túmulo da menina Maria de Lourdes no Cemitério Senhor da Boa Sentença, em João Pessoa.. Luana Silva/Jornal da Paraíba

“Então, começou o movimento sobre ressignificação da vida e da história de Maria de Lourdes, por que ela saiu de ser culpada para ser inocentada, né? E morta injustamente, não que matar quem rouba é justiça, mas existia essa construção na época”.

Da cova à devoção

José Barbosa, zelador do cemitério há mais de 50 anos, disse que, inicialmente, a menina “Lurdinha” foi enterrada em uma cova rasa no Cemitério Senhor da Boa Sentença. No entanto, pessoas começaram a atribuir graças alcançadas por intermédio da milagreira e construíram o atual túmulo, na parte da frente do cemitério, em agradecimento.

“Ela foi enterrada naquela outra quadra ali, dentro do cemitério, em uma cova de terra. Aí uma pessoa fez a promessa com ela e fez esse esse pergolado”.

O aposentado Carlos Nunes era criança quando aconteceu a morte de Maria de Lourdes. Ele relata que, até os dias de hoje, lembra da repercussão do caso. “Lembro de tudo, eu tinha uns oito, nove anos de idade, por aí, quando aconteceu isso. Foi uma uma coisa triste para João Pessoa, porque foi a morte dela foi uma morte muito perversa”.

Pequenos e grandes devotos


				
					Maria de Lourdes, a menina assassinada que virou foco de devoção no Cemitério da  Boa Sentença
Ex-votos no túmulo da milagreira Maria de Lourdes.. Luana Silva/Jornal da Paraíba

Não conseguimos conversar com nenhum devoto da Menina Lurdinha. Talvez pelo estigma que os cemitérios carregam. No entanto, seu túmulo bem cuidado e enfeitado, lembram que, após sofrimento e injustiça, a menina encontrou nos devotos o amor que nunca teve em sua breve vida.

Quando pesquisou sobre a devoção em torno da menina, Weverson Bezerra conta que identificou que alguns adultos pediam às crianças que rezassem para a menina Maria de Lourdes. Como se, por ser também criança, a milagreira ouvisse melhor os pequeninos.

“Crianças que queriam passar de ano, que são adultos agora, que falam que queria passar de de ano, vinham e faziam suas rezas para Maria de Lourdes, pedia, passavam de ano, né? E o outro outro relato também é quando a devota falou que precisava de de um material escolar para os filhos”.

O pesquisador lembra que conheceu uma mulher que acredita que o filho foi curado de uma doença de pele pela milagreira do cemitério. Em agradecimento, ela deixou o cabelo da criança crescer até completar cinco anos, cortou e ofereceu à Maria de Lourdes.

“Conheço algumas histórias, né, de uma mãe que o filho tinha problemas de pele e ela disse que, se Maria de Lourdes curasse, ia trazer o cabelo dele quando completasse cinco anos. Então, Maria de Lourdes curou e ela veio com o menino, cortou o cabelo dele aqui e entregou para Maria de Lourdes”.

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Luana Silva

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