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COTIDIANO

Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'

Neste Dia dos Avós, paraibanas que perderam avós lembram relação de amor e afeto.

Publicado em 26/07/2021 às 10:37 | Atualizado em 26/07/2021 às 15:10


                                        
                                            Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'

				
					Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'
Foto: Juliana Aguiar/Arquivo Pessoal.

“É como se ela ainda estivesse viajando”, diz a paraibana Juliana Aguiar, de 22 anos, que viu a avó pela última vez em fevereiro de 2020. Depois disso, a neta recebeu apenas as cinzas de Maria do Socorro de Araújo, que morreu aos 84 anos no Rio de Janeiro após ser diagnosticada com a Covid-19. Nesta segunda-feira, 26 de julho, data em que o país comemora o Dia dos Avós, a dor de Juliana por não ter tido a chance de se despedir da avó só aumenta, assim como a saudade de poder abraçá-la diariamente. 

"Infelizmente minha avó foi uma das primeiras a morrer nesse país, não existia vacina, não sabíamos nem o que era a Covid ainda", conta Juliana Aguiar.

A dor da paraibana pela ausência da avó começou junto com a pandemia. Em fevereiro de 2020, quando o Brasil ainda ouvia falar da Covid-19 pelo mundo, a avó de Juliana foi convencida por uma das filhas a sair da cidade onde morava, em Queimadas, na Paraíba, e viajar para o Rio de Janeiro. Juliana, que mora numa cidade vizinha, em Lagoa Seca, ficou receosa com a viagem, mas ajudou a arrumar as malas da avó e se despediu dela com um longo abraço e um beijo na testa, como sempre fazia.

“Quando ela saiu daqui, ainda não tinham divulgado nada sobre casos de coronavírus no Brasil. Ela ainda passou um tempo em São Paulo antes de ir pro Rio. Só que em março, quando começou [a pandemia] de fato, ela chegou no Rio e aí já teve uma tontura e desmaiou. Minha tia preocupada levou ela ao médico e quando chegou lá eles já suspeitaram de Covid e fizeram o teste”, relata Juliana.

Ao ser internada em um hospital do Rio, não demorou para que Maria do Socorro fosse transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foram cerca de 15 dias entubada, sem poder receber visita alguma. Enquanto isso, Juliana e a família que ficou na Paraíba suplicavam por notícias da avó e rezavam para que a doença não a levasse. Mas isso não aconteceu.

“Infelizmente minha avó foi logo pra UTI, ninguém pôde ficar com ela. No dia 30 de abril, uma hora depois de sair o resultado do teste, que deu positivo pra Covid, os médicos informaram que ela não resistiu”, lembra Juliana.

Quinze dias depois, Juliana e a família na Paraíba viveriam um dos piores dias da vida. A paraibana, que recorda com dor e choro a forma como a avó retornou para casa, conta que recebeu apenas um recipiente com as cinzas de Maria.

"Minha avó foi cremada e veio apenas um potinho com as cinzas dela aqui pra Paraíba, pra gente enterrar no cemitério. Foi muito doloroso perder ela dessa forma, porque ela saiu daqui bem e voltou assim”, diz Juliana emocionada.

Marizete Pereira, 75 anos

“Foi uma perda irreparável pra nossa família. Ela tinha 75 anos, mas era muito ativa, cuidava de tudo e de todos, era realmente uma base pra toda família”, diz Amanda Rangel, que também perdeu a avó para a Covid-19.

				
					Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'
Foto: Amanda Rangel/Arquivo Pessoal.

A paraibana Amanda Rangel, de 26 anos, mora em Campina Grande e não conhece Juliana Aguiar, mas compartilha da mesma dor da conterrânea. E essa dor pela ausência da avó é ainda mais recente para ela. No domingo (25), foram dois meses completos sem a presença de Marizete Pereira, que morreu aos 75 anos por complicações da Covid-19. 

Uma dor que a neta de Marizete diz ser ainda maior porque a avó partiu no dia 25 de maio de 2021, data em que a paraibana completou 26 anos. O dia para celebrar a vida de Amanda agora será sempre lembrado também como o dia em que a avó deixou todos da família com uma enorme saudade.

“Foi horrível, um dos piores dias da minha vida. Já estava sendo muito difícil pra mim porque lembrei muito dela. [Ela] Seria a primeira a me ligar parabenizando e meu único pedido era pela recuperação dela. Mas recebi a notícia à tarde”, recorda Amanda.

Amanda explica que, pouco mais de um mês antes de morrer, Marizete já havia sido vacinada contra a Covid-19. Mas pela idade da avó e devido a outras complicações, os sintomas que começaram leves acabaram agravando. 

A prima de Amanda, Nayara Alexandre Pereira, foi quem acompanhou de perto a luta da avó Marizete contra a Covid-19. A biomédica conta que desde o início da pandemia a avó tinha muito medo de ser contaminada pela doença.

“Quando começou a pandemia, ela tinha muito medo, muito medo mesmo. Ela chegou até a se mudar da cidade para uma casa no sítio e ficar lá e nessa época eu precisei me afastar dela também, porque eu trabalhava atendendo pacientes com Covid. Depois, quando amenizou mais, ela voltou pra casa dela na cidade”, recorda.


				
					Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'
Foto: Nayara Pereira/Arquivo Pessoal.

Foi Nayara quem acompanhou a avó até o hospital no dia em que ela precisou ser internada, uma das lembranças que mais fazem a neta chorar. “Eu que fui com ela na ambulância, a gente foi rezando de casa até a UPA. Eu lembro que na hora que a gente tava saindo de casaela olhou pro céu e disse: ‘meu Deus, tanta gente que foi pro hospital e não voltou’. E eu ficava dizendo pra ela: ‘não vovó, a senhora vai voltar. Mas isso não aconteceu”, relata aos prantos.

A paraibana, que trabalha na área da saúde há nove anos, diz que o pior de tudo foi não poder ajudar a avó no momento que ela mais precisava. “O mais doloroso nisso tudo foi porque na hora que a pessoa mais importante da minha vida estava doente, precisando de cuidados, eu não podia ter acesso, não podia cuidar dela, então isso me maltratava demais, saber que eu não podia ajudar ela foi devastador”, lamenta.

Joselina Medeiros, 79 anos, e Francisco Bezerra, 77 anos

“Meus avós sempre foram cheios de vida e de vontade de viver, era incrível a força que eles tinham fisicamente, mentalmente e espiritualmente”, lembra Andressa Medeiros, que também perdeu os avós para a Covid-19.

				
					Netas que perderam avós para a Covid-19 relatam saudades: 'Foi muito doloroso'
Andressa Medeiros perdeu os avós para a Covid-19, na Paraíba — Foto: Andressa Medeiros/Arquivo Pessoal. Andressa Medeiros perdeu os avós para a Covid-19, na Paraíba — Foto: Andressa Medeiros/Arquivo Pessoal

Entre milhares de netos que perderam avós para a Covid-19, também está Andressa Medeiros, que perdeu o avô, Francisco Bezerra, de 77 anos, quatro dias depois de perder a avó para a doença. 

A paraibana, de Sousa, no Sertão do estado, recorda da última vez que conseguiu falar com a avó, Joselina Medeiros, de 79 anos, por telefone: “As últimas palavras que minha avó me falou foram ‘minha filha me leva pra casa, me tira daqui’ e aquilo me partiu o coração. Hoje só me resta a saudade!”.

Até agora, a Paraíba tem mais de 418 mil casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus, segundo o último boletim da Secretaria de Estado da Saúde (SES) divulgado no domingo (25). O número de mortes confirmadas por Covid-19 no estado subiu para 8.938. Todos os 223 municípios paraibanos já registraram casos da doença e 222 deles registraram óbitos.

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Iara Alves

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