COTIDIANO
Notas da guitarra de Hendrix são como cores que um gênio da pintura joga na tela
Publicado em 18/09/2016 às 19:49 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
Neste domingo (18), são 46 anos da morte de Jimi Hendrix.
Quando pensamos em guitarristas, há nomes que não podem ser esquecidos. Falamos em jazz, e lá vêm Wes Montgomery e Django Reinhardt. Se formos para os primórdios do rock, Chuck Berry aparecerá entre os fundadores. No blues, temos as notas econômicas e essenciais de B.B. King. Claro, estamos antes dos anos 1960 do século passado, década em que os conjuntos de guitarras tomaram conta do mundo da música popular. É aí que chegamos à Londres que, em 1966, viu nascer o trio The Jimi Hendrix Experience. Um guitarrista americano, mestiço de negro com índio; um baixista e um baterista ingleses, brancos. Eles logo fariam história.
Jimi Hendrix é o maior guitarrista de todos os tempos. Um lugar comum. Mas está certo. Os garotos que hoje estudam o instrumento e têm às mãos todos os recursos tecnológicos, farão coisas inacreditáveis com uma Fender semelhante à de Hendrix. Mas não inventarão nada. Não escreverão a gramática, nem a história, como Jimi fez numa carreira tão intensa quanto meteórica, entre 1966 e 1970. Ele foi descoberto em Londres, na época em que os Beatles e os Rolling Stones comandavam a cena roqueira da cidade, e impressionou todos os que puderam vê-lo ao vivo. Os melhores guitarristas – gente como Clapton e Page – ficaram perplexos. E quiseram desistir.
Dois shows disponíveis em Blu-ray oferecem um grande retrato de Jimi Hendrix. No primeiro, ele debuta para o público americano. Em 1967, sua apresentação no Festival de Monterey provocou um impacto extraordinário sobre os músicos e os espectadores do evento. No segundo, o guitarrista está no auge. Em 1969, sua performance no Festival de Woodstock, mais extensa do que a de Monterey, figura entre os mais impressionantes momentos do rock produzido ao vivo. Os dois registros trazem o melhor de Hendrix no palco e também eternizam festivais que marcaram a cultura pop.
Dizer que a guitarra é extensão do corpo de Jimi Hendrix é outro lugar comum. Tanto quanto classificá-lo como o maior de todos os guitarristas. Mas também é verdade. Com o instrumento colado ao seu corpo, ou dando voltas ao redor deste, às vezes tocando com a boca, Hendrix ultrapassa os limites das convenções musicais. Produz ruídos que se misturam ao que não é ruído. Notas certas no lugar certo fundidas a notas que poderiam ser consideradas incorretas. Acordes que não estão nos manuais, dedos pressionando cordas e trastes como ninguém ousaria fazer. Invenção pura. Resultado excepcional. Como as cores que um gênio da pintura joga numa tela.
Hendrix lançou três discos gravados em estúdio antes de morrer aos 27 anos, em setembro de 1970. Mas a discografia é extensa. Os muitos discos póstumos estão à altura da sua importância. Há fabulosos registros ao vivo. Também em estúdio. Todo o material foi recuperado, restaurado à luz dos mais avançados recursos tecnológicos disponíveis nos estúdios da era digital. A família cuida bem da memória e do legado musical. Os sons que produziu na guitarra Fender já atravessaram quase cinco décadas desde que morreu. E permanecem ousados e modernos. Os garotos de hoje facilmente confirmarão.
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