COTIDIANO
O dia em que tentei falar com Carlos Drummond de Andrade
Publicado em 17/08/2017 às 6:39 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:44
Nesta quinta-feira (17), faz 30 anos que morreu o poeta Carlos Drummond de Andrade (fotografado por Evandro Teixeira).
Um dia, me vi diante da possibilidade de falar com ele.
Conto como foi.
10 de março de 1980. Morreu José Américo de Almeida.
Estava a caminho da redação de A União quando soube da morte do homem que escreveu A Bagaceira.
Numa reunião de pauta sobre como seria a cobertura, muitas coisas foram definidas, entre elas, as pessoas que ouviríamos por telefone.
Fiquei com Gilberto Freyre, Jorge Amado, Austregésilo de Athayde (que presidia a Academia Brasileira de Letras) e Carlos Drummond de Andrade.
Eu tinha 21 anos, não atuava como repórter, mas, naquele dia, fui escalado para a reportagem.
Drummond era (é) meu poeta preferido. Entre os meus livros, já estava aquele volume de capa verde e letras douradas da Nova Aguilar com toda a poesia dele (tenho até hoje).
Era incrível vê-lo em atividade, lançando livros, fazendo crônicas no jornal, aparecendo em entrevistas na televisão. Falar com ele me pareceu muito atraente, ainda que para repercutir uma morte.
Falei com Gilberto Freyre, que estava envolvido com a comemoração dos seus 80 anos, e com Austregésilo de Athayde. Jorge Amado estava na Europa, me informou a pessoa que atendeu ao telefone na casa dele em Salvador.
Liguei, por fim, para o apartamento de Drummond, depois de conseguir o número com a ABL. Dona Dolores, a mulher do poeta, atendeu e logo sugeriu:
Ligue no fim da tarde.
Tentei outra vez, e Dona Dolores justificou:
Saiu para jantar com o neto. Tente depois.
Terceira ligação. Eu, já inibido. Dona Dolores, levemente impaciente:
Ele volta tarde. Você não vai conseguir.
Não consegui.
Será que Drummond não quis falar sobre Zé Américo? Foi o que me perguntei diante da pauta não cumprida.
Hoje, nos 30 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade, penso na beleza dos seus versos e na permanência da sua obra.
E, num tempo de poucas leituras, me pergunto:
Quantos ainda querem ler aquele volume de capa verde e letras douradas da Nova Aguilar?
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