COTIDIANO
O politicamente correto agora está batendo em Anitta
Publicado em 23/08/2017 às 6:03 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:44
Ney Matogrosso homofóbico! (?)
Chico Buarque machista! (?)
O politicamente correto não escolhe em quem pode bater.
Agora é Anitta.
No tempo das patrulhas ideológicas, 40 anos atrás, eu era jovem, paciente e cheio de sonhos. Mas já ficava incomodado quando via amigos da esquerda batendo em artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que haviam passado pela experiência amarga da prisão, do confinamento e do exílio. No fundo, esses amigos eram moralistas e conservadores. Depois, vi alguns deles envolvidos em práticas que não eram compatíveis com o discurso que faziam, nem com os nossos sonhos.
Quatro décadas adiante, estou beirando o limiar da velhice, descrente e pouco paciente com a intolerância e a falta de bom senso nesse Brasil de tanta polarização. E claro que fico ainda mais incomodado quando vejo, na mídia e nas redes sociais, o politicamente correto reeditar, com as cores de hoje, as patrulhas ideológicas do final dos anos 1970.
Vivemos a era das inquisições virtuais, disse ontem com muita propriedade, ao comentar o novo disco de Chico Buarque, o crítico de música Mauro Ferreira.
Sobre Anitta:
A cantora, que veio do funk carioca e agora almeja carreira internacional, gravou o clipe de uma música nova. A gravação foi feita no Vidigal. A artista estava vestida com um micro biquini de fita adesiva e usava tranças no cabelo.
Para muitos que seguem a cartilha do politicamente correto, o cabelo de Anitta, do jeito que estava durante a gravação do vídeo, é uma apropriação cultural a que ela não tem direito. "Quer ser negona!", li num texto tão absurdo quanto pouco inteligente.
Ora, cabelo, cada um usa do jeito que quer.
Tranças, como as de Anitta, ninguém está proibido de usar.
Mais: vivemos num país de grande miscigenação.
Por último: Anitta não é branca!
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