COTIDIANO
Para Caetano, Jomard profetizou o que aconteceu no Mangue Beat
Publicado em 08/04/2017 às 12:56 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:45
Em 2009, entrevistei Caetano Veloso sobre Jomard Muniz de Britto. A entrevista foi registrada para o filme JMB, o Famigerado.
Teve um momento da conversa em que eu perguntei:
"Para Caetano, afinal, quem é Jomard Muniz de Britto?"
E Caetano assim respondeu:
"Cara, Jomard é muita coisa, muita coisa!
Ele é uma dessas pessoas em constante movimento e uma figura que, pra mim, cataliza no Recife uma série de movimentos da alma entre muitas pessoas. Eu acho que ele profetizou o que veio a acontecer no Mangue Beat com a própria atitude dele. E ele sempre teve uma maneira de ser que era profundamente pernambucana e ao mesmo tempo parecia ter a necessidade e a capacidade de intuir uma maneira de superar as coisas que em Pernambuco pudessem ser travas.
É curioso isto, eu acho. Porque, muitas vezes, grandes pernambucanos, ou grandes pessoas que a gente conhece em Pernambuco, são justamente grandes por serem grandemente restritivas.
Lembro de uma história engraçada de Ariano Suassuna que contam na Bahia. Ele foi a Salvador, quando a Escola de Teatro montou O Auto da Compadecida, e, depois, disse que não tinha vontade de voltar a um lugar onde as pessoas estão num bar, um baiano se levanta para ir ao banheiro e os outros baianos falam bem daquela pessoa que se levantou. Então, para o baiano, que é assim, o pernambucano aparece como restritivo.
E, curiosamente, o temperamento do Jomard parece ser o oposto, porque é agregador, embora eu não diga que ele seja uma pessoa que procure ser diplomática, não é isso, é o próprio espírito assim mais absorvente, mais líquido".
(A foto, lá em cima, não é do filme JMB, o Famigerado. Mas também é de 2009. Eu e Jomard numa conversa com Caetano no Marco Zero, Recife. Quem fez a foto foi Kubi Pinheiro)
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