COTIDIANO
'Sensação de impotência', relata paraibano que teve que abandonar casa após chuvas no RS
Paraibano mora em Porto Alegre desde o início de 2023 para estudar doutorado na UFRGS. Chuvas no Rio Grande do Sul já mataram 83 pessoas.
Publicado em 06/05/2024 às 13:46
"A cidade parece um filme de terror, um cenário apocalíptico", conta o paraibano Cosmo Júnior, que atualmente mora em Porto Alegre, onde as águas das fortes chuvas inundaram ruas e casas após a cheia do lago Guaíba, nesta sexta-feira (3). As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde a semana passada já causaram 83 mortes e deixaram quase 22 mil pessoas desalojadas.
"Quando entrei no mercado, na sexta à noite, tive a mesma sensação de quando foi declarada a pandemia de Covid. Todo mundo agarrando água, papel higiênico, uma multidão. Aquela sensação de impotência", relata Cosmo, que foi para a capital gaúcha fazer o doutorado de políticas públicas da UFRGS.
Morador do bairro Floresta, próximo ao centro de Porto Alegre, Cosmo conta os momentos de terror que tem vivido nos últimos dias. Abrigado no apartamento de um casal de colegas, outras quatro pessoas do mesmo prédio em que morava também estão dividindo o mesmo espaço, contando com a solidariedade de amigos.
"Na sexta à noite nós percebemos que a água tava começando a chegar numa velocidade grande no nosso bairro. No sábado pela manhã, o térreo do prédio já estava todo tomado de água. Foi quando a gente se viu obrigado a sair. Pegamos o básico, com a roupa que estávamos e uma mochilinha e atravessamos a pé a rua que já estava inundada", conta Cosmo.
Abrigado na casa de amigos em uma parte mais alta do Centro da cidade, Cosmo relata a solidariedade que encontrou junto a pessoas próximas, mas também o sentimento de revolta que tem ao receber informações de que algumas pessoas estão aproveitando o momento de tensão para saquear as casas que foram desocupadas. "Entraram no prédio em que eu moro para saquear. Outras pessoas estão dando golpes, cobrando R$ 500 para fazer o resgate e simplesmente não aparecem", diz.
Segundo ele, mesmo sem o registro de chuvas nesta segunda-feira na capital gaúcha, a sensação ainda é de desespero. Além da interrupção do abastecimento de água e energia elétrica em vários bairros da cidade, inclusive no qual está abrigado no momento, o medo também tem outra causa: uma frente fria prevista para a próxima quarta-feira (8) na região pode causar baixas nas temperaturas, que podem chegar até 10 graus. Sem roupas adequadas, o frio pode ser um novo complicador na equação mesmo para quem está em áreas seguras. De acordo com a Climatempo, o avanço de nova frente fria também volta a provocar aumento nas condições de pancadas fortes de chuva.
Nos mercados, também, já é registrada a falta de produtos essenciais, como água. "Ontem, quando fui no supermercado, já não tinha água nem ovo. As pessoas estocaram tudo que podia", conta. "Jamais pensaríamos que o bairro em que eu moro seria alagado, mas da sexta pro sábado eu assisti da janela do meu quarto inúmeras famílias tendo que deixar suas casas, com crianças, idosos, deixando tudo para trás. O pior é que você não pode fazer nada, porque todo mundo está atravessado pelo mesmo problema", explica.
Números oficiais
O número de mortes confirmadas decorrentes das fortes chuvas que caem no Rio Grande do Sul subiu para 83 e outros quatros óbitos estão em investigação para confirmar se há relação com os eventos meteorológicos da última semana. Os dados são do boletim da Defesa Civil estadual atualizado às 9h desta segunda-feira (6). No momento, o número de desaparecidos chega a 111 pessoas.
Ao todo, são 345 municípios gaúchos atingidos pelos temporais que atingem o RS desde a última semana, com mais de 850,4 mil pessoas afetadas. O estado contabiliza 21.957 pessoas desalojadas. O levantamento também aponta que 19.368 pessoas estão temporariamente em abrigos e há 276 feridos.
Parte da cidade de Porto Alegre devido à cheia histórica do Lago Guaíba, que subiu mais de cinco metros neste domingo (5), maior nível já registrado. O número de óbitos superou a última catástrofe ambiental do estado em setembro de 2023, quando 54 pessoas perderam a vida devido a passagem de um ciclone extratropical. As autoridades afirmam que este é o pior desastre climático da história gaúcha.
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