COTIDIANO
Paul Simon é um homem velho relendo canções em grande CD
Publicado em 30/10/2018 às 7:18 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:37
Paul Simon está com 77 anos.
Ele acaba de lançar um CD chamado In the Blue Light.
O título foi retirado de uma canção do início dos anos 1980 (How the Heart Approaches What It Yearns).
O disco reúne releituras de 10 das suas canções.
Paul Simon? Há muitos.
Há o jovem que fazia dupla com Art Garfunkel na juventude. Ficaram famosos como Simon & Garfunkel, mas, na adolescência, no tempo da escola, eram Tom e Jerry. Simon compunha, Garfunkel só cantava. Miravam-se na canção branca, muito folk, dos Everly Brothers.
Há o autor em trajetória solo, longe do parceiro. Três discos primorosos nos anos 1970 (+ um o vivo). Canções mais refinadas e até mais belas do que as da década anterior. Um pé na música do mundo (o Peru do Urubamba, o Brasil de Sivuca e Airto Moreira). O gospel dos negros somado ao folk dos brancos.
Há o homem maduro a descobrir e difundir a música da África do Sul. Aos que o criticaram por romper o bloqueio cultural imposto ao regime racista de minoria branca, ofereceu Graceland, um canto à harmonia entre os povos através da canção popular.
Há o artista que, após o êxito de Graceland, veio ao Brasil fazer The Rhythm of the Saints e, da Bahia, das ladeiras do Pelourinho, projetou os tambores do Olodum para o mundo.
As descobertas de Graceland e de The Rhythm of the Saints mudaram seu trabalho. Muitas vezes, sobrepuseram o ritmo à melodia. O Paul Simon aos 50 anos, em 1991, era muito diferente do jovem que encantou as pessoas com canções como The Sound of Silence e Bridge Over Troubled the Water.
In the Blue Light, o disco que Paul Simon acaba de lançar, é imprescindível para quem acompanha de perto o seu trabalho. Traz um homem velho recriando canções. Elas vêm de discos gravados entre 1973 (There Goes Rhymin' Simon) e 2011 (So Beautiful or So What).
Os timbres são outros, os instrumentos, os arranjos, o jeito de cantar. A exposição do que talvez estivesse escondido nas gravações originais. Um certo desejo de tornar essas canções ainda mais perenes. De acentuar o que lhes confere permanência, resistência à passagem do tempo.
É justo pressupor que são canções da predileção do autor. E é fácil constatar que são canções pouco conhecidas. Não são grandes sucessos. É como se ele nos sugerisse: "Prestem atenção nessas aqui. Elas são tão bonitas também".
E como são!
In the Blue Light traz músicos excepcionais e formações menos comuns nos discos de Simon. Há de Wynton Marsalis aos brasileiros do Duo Assad, de Jack DeJohnette e Steve Gadd ao sexteto yMusic .
E há canções perfeitas como René and Georgette Magritte with Their Dog After the War, que reputo como uma das mais inspiradas de todo o cancioneiro de Paul Simon.
Hoje não tem mais Phil Ramone, mas, aos 84 anos, Roy Halee divide a produção com Simon. A parceria dos dois, que vem de longe, é um selo de altíssima qualidade.
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