COTIDIANO
Paulo Ró faz 60 anos
Publicado em 11/03/2018 às 6:42 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43
O músico paraibano Paulo Ró faz 60 anos neste domingo (11).
Paulo Roberto do Nascimento, o nome completo.
Roberto, como eu o chamava nos tempos do Colégio Estadual de Jaguaribe.
Pedro Osmar Gomes Coutinho já era Pedro Osmar quando o conheci.
Paulo Roberto do Nascimento ainda não era Paulo Ró.
Os dois irmãos, que moravam na antiga Rua da Paz, eram meus colegas no curso ginasial.
O ano, 1971.
Pedro compunha e estava envolvido com festivais e com a cena musical da cidade.
Roberto começava a tocar violão.
Ouvíamos muita música.
Ao nosso redor, nas ruas de Jaguaribe e em suas casas modestas, era como se houvesse uma comunidade imaginária formada em torno da música. Dos discos que levávamos uns para as casas dos outros. Dos violões que carregávamos em busca de novos acordes, das canções que pareciam mais difíceis e complicadas.
Nossa formação foi assim.
Lá fora, a violência do Brasil do ame-o ou deixe-o.
Nos nossos interiores, a música, o cinema, os livros, as artes plásticas.
O que era produzido em Jaguaribe e o que, vindo de fora, chegava às nossas mãos.
Duvido que hoje seja tão bom, a despeito de toda essa gama de informações gerada pelas maravilhas da tecnologia.
Na minha memória afetiva, Paulo Ró é personagem essencial dessa cena.
Descobrir os sons de Gismonti.
Ver Bangladesh na tela grande do Plaza.
"Tirar" todos os acordes de Beware of Darkness.
Depois, as músicas que ele começou a fazer. Os primeiros shows com o irmão. A formação do Jaguaribe Carne. A ida para o Rio de Janeiro.
Canções e experimentalismo. Canções versus experimentalismo. Só experimentalismo.
Sempre que vejo os dois (juntos ou separados), sempre que converso com os dois (hoje, tão pouco), me ocorre algo que botei na cabeça há muitos anos. Que, se Pedro Osmar é o guerrilheiro cultural, a Paulo Ró o que interessa mesmo é a música. Seu talento é essencialmente musical. Sempre foi assim, penso, mesmo que ele seja um parceiro fidelíssimo do irmão. Mesmo que ele tenha embarcado em todas as rupturas propostas pelo irmão.
Pedro Osmar organiza o movimento.
Paulo Ró faz música.
Um é o oposto do outro. Ou os dois se complementam em suas diferenças.
Não sei.
Só sei que gosto muito deles.
Mesmo quando brigo com Pedro e o chamo de intolerante.
Com Paulo Ró, não tem briga.
É só conversa sobre música, discos, gente que canta, gente que toca, os artistas que a gente nunca deixou de ouvir.
Paulo Ró em sua quietude. Lá em Lucena. Com uma família em que é o único homem. As mulheres são seu norte, sua proteção.
Como a música. A que ouve e a que faz.
Parabéns pelos 60, Roberto!
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