COTIDIANO
PB registra 424 homicídios em 90 dias e população teme denunciar
Número de execuções nos municípios aumentou 25,81% em relação ao mesmo período de 2010. Março tem o maior índice do ano. Falta de informações dificulta investigações.
Publicado em 07/04/2011 às 9:59
Camila Alves
Do Jornal da Paraíba
Dados levantados pela Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social (Seds) apontam que o número de homicídios na Paraíba cresceu 25,81% no primeiro trimestre de 2011, em relação ao mesmo período do ano passado. Somente nos três primeiros meses deste ano, 424 pessoas foram assassinadas, 87 a mais que em 2010.
A Seds oferece o serviço de Disque Denúncia (197) para que a população possa contribuir com a polícia nas investigações de diversos crimes, inclusive, de homicídios. A ligação é gratuita e o sigilo é garantido.
“Mas a população, por medo e insegurança, ainda se mantém calada e evita falar com a polícia sobre os crimes, dificultando as investigações”, comentou a gerente-executiva da Polícia Civil Metropolitana, Daniella Vicuuna. O mês de março lidera o ranking do trimestre com 157 homicídios. Um exemplo foi o assassinato de Ana Paula Leôncio, 38 anos, e do filho, Lindemberg Ramos, 23 anos. No dia 13 de março, eles foram mortos por uma quadrilha que atua na comunidade São Rafael, localizada no bairro Castelo Branco, em João Pessoa. Depois de mortos, as vítimas tiveram as mãos, orelhas e língua decepadas.
Em janeiro deste ano foram registrados 143 assassinatos, contra 97 no mesmo período do ano passado. Ou seja, o primeiro mês do ano fechou com um aumento de 47,42% no número de homicídios. A gerente-executiva da Polícia Civil Metropolitana afirmou que a polícia tem trabalhado com eficiência para prender os autores desses crimes. Segundo Vicuuna, em 30% dos homicídios, os criminosos foram presos no mesmo dia. “Nesses três meses realizamos mais de dez flagrantes nos casos ocorridos dentro da região metropolitana de João Pessoa”, afirmou.
A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraíba (OAB-PB), Marilia Figueiredo Burity, afirmou que o número de homicídios tem crescido, segundo ela, não só no Estado, mas também no país, em virtude da base familiar que está desestruturada. “A sociedade precisa trabalhar em prol da família para que seus valores sejam restabelecidos”, comentou.
Para Marilia Burity, somando esse quadro à falta de políticas públicas eficazes contra a criminalidade, o resultado é esse: o número de homicídios crescendo. “Hoje, as pessoas matam sem motivos e isso não acontecia antigamente. Os bandidos vão para as ruas para roubar e matar, sem nenhum pudor”, declarou, acrescentando que as políticas públicas são frágeis e vêm de uma sequência de erros.
Visitando comunidades de João Pessoa, onde dados do Conselho de Segurança da região apontam 150 homicídios só no primeiro trimestre de 2011, a sensação de insegurança é comum na população, que, inclusive, tem receio de falar sobre o assunto. A média preocupante de 50 crimes por mês retrata o aumento contínuo da violência. No Alto do Mateus, por exemplo, na zona oeste de João Pessoa, um adolescente de 16 anos conta que já perdeu vários amigos assassinados, sendo o último deles no mês passado.
“Ele foi morto a golpes de faca e com tiros. Já perdi as contas de quantos amigos meus já foram assassinados”, disse, sem querer se estender na conversa.
Operação
Há cerca de 20 dias, entretanto, uma megaoperação policial que prendeu oito traficantes do bairro e apreendeu três adolescentes trouxe mais tranquilidade ao local. Na ocasião, dois policiais foram baleados.
“Depois que o tenente e o sargento foram baleados a gente vê mais policiais por aqui e sente até mais segurança. Hoje, não temos do que reclamar, só esperamos que continue assim”, declararam.
Para se ter uma ideia do que o número de 150 homicídios em apenas três meses representa, o percentual é mais da metade do registrado em todo o ano de 2007 e 2008, na região metropolitana, quando foram identificados 258 e 292 assassinatos, respectivamente.
O Jornal da Paraíba tentou entrar em contato com o secretário de Estado da Segurança e da Defesa Social, Cláudio Lima, para que ele comentasse os números. Mas a assessoria de imprensa informou que a agenda do secretário estava lotada e não teria como ele atender à reportagem.
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