COTIDIANO
Pesquisa cria teia sintética
Pesquisa é desenvolvida na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília
Publicado em 03/08/2014 às 6:00 | Atualizado em 04/03/2024 às 17:43
Por essa, nem o Homem-Aranha, super-herói dos quadrinhos, esperava. A fabricação de teias de aranha em laboratório é realidade para pesquisadores brasileiros, que, no futuro, podem também fazê-las crescer em plantas. As informações são da Agência Brasil.
A pesquisa é desenvolvida na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, e liderada pelo pesquisador Elíbio Rech. Ele explica que a teia de aranha é um produto com alta aplicabilidade comercial e a forma como pode ser produzida define o conceito de sustentabilidade e uso racional da biodiversidade.
“Nós não precisamos mais entrar na floresta para pegar nenhuma aranha. Você vai lá, conhece as propriedades, pega alguns poucos organismos, retira o que precisa e nunca mais volta, você faz sintético. Esse é o caminho real de sustentabilidade, usar a tecnologia para que você não tenha que devastar a floresta para isolar um determinado composto”, disse o pesquisador.
Rech conta o caso da artemisina, produzida pela planta artemísia, um forte componente contra a malária. “Foi feita uma avaliação e começaram a produzir em larga escala, mas foi economicamente inviável porque precisava de áreas enormes.
Então, usando a engenharia genética, um grupo da Califórnia produziu em levedura e o composto foi lançado por uma empresa farmacêutica no ano passado. Um produto contra a malária, que veio de uma planta, mas que não precisa mais usar a planta, você faz tudo sintético”.
A pesquisa da Embrapa começou em 2003 com a prospecção na Amazônia, na Mata Atlântica e no Cerrado de aranhas que produzem fibras e o mapeamento genético das glândulas que produzem as proteínas que vão dar origem à seda da teia.
Segundo a pós-doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Valquíria Lacerda, que trabalha no projeto, a criação em laboratório das proteínas da aranha é feita pela bactéria Escherichia coli. “Ainda não existe um organismo ideal para produzir em grande quantidade. Tem pesquisadores que já colocaram em células de mamíferos, de insetos, em bactéria, o mundo inteiro ainda procura uma biofábrica ideal para fazer extração reduzindo o custo desse material”, disse a bióloga.
O passo seguinte consiste na extração das proteínas. Para isso, a massa de bactérias E. Coli é diluída em meio líquido e as proteínas de teia de aranha são resgatadas com uma sequência de DNA específica. Com auxílio de uma seringa especial que simula a espirineta (órgão da aranha que expele a teia), os pesquisadores vão liberando e enrolando a fibra.
Para explicar os possíveis usos dessa fibra, o pesquisador Elíbio Rech faz a comparação com o plástico, ou seja, serve para quase tudo. “É um material novo que tem duas características, flexibilidade e resistência, e também é biodegradável. Ele tem uma característica física que permite um melhor desempenho para tudo.”
Pode ser usado na produção de tecidos, em fios para sutura, para quem tem alergia ao nylon, por exemplo, e também em nanopartículas para o endereçamento preciso de drogas e medicamentos no corpo humano.
Também em composições metálicas e plásticas para placas e peças de aviões e para os cascos de navios. “Qualquer material que dure mais vai reduzir o custo de manutenção. Ao conseguir fazer com que um material trabalhe mais e seja mais leve, você também reduz o gasto de combustível, reduz emissão de gás carbônico na atmosfera”, disse Rech.
Comentários