COTIDIANO
PMs suspeitos de balear menino são transferidos
Eles foram para o Batalhão Especial Prisional (BEP) na madrugada desta quarta (9). Tribunal de Justiça já tinha decretado a prisão temporária deles por 30 dias.
Publicado em 09/07/2008 às 7:48
Os dois policiais militares suspeitos de atirar contra um carro e matar o menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, foram transferidos na madrugada desta quarta-feira (9) para o Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica, subúrbio do Rio.
Na noite de terça-feira (8), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão temporária por 30 dias dos suspeitos. Os dois já estavam presos administrativamente no 6º BPM (Tijuca).
Antes de serem transferidos para o BEP, os policiais foram examinados no Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), no Estácio, na Zona Norte do Rio.
Prisão temporária foi decretada na terça
A prisão foi decretada na noite de terça pelo juiz de plantão Ricardo Rocha.
No Inquérito Policial Militar (IPM), os dois militares mantiveram a versão de que estavam perseguindo criminosos e que o carro de Alessandra Soares, mãe de João Roberto, ficou no meio do fogo cruzado.
Em declaração dada na manhã de terça-feira, o comandante do 6º BPM, Ruy Louri estranhou o procedimento dos policiais, dizendo: "Infelizmente, não sei o que se passou na cabeça desses policiais".
O crime
Alessandra voltava de uma festa de aniversário com os dois filhos em seu carro, um Palio Weekend cinza chumbo, que foi confundido e alvejado pelos policiais militares como se fosse o carro usado por suspeitos de assaltos.
O carro que teria sido usado pelos perseguidos foi encontrado na madrugada desta terça. Segundo a polícia, o veículo Fiat, modelo Stilo, era roubado e está envolvido em quatro ocorrências de roubos de pertences.
O proprietário do carro esteve na delegacia, mas não conseguiu identificar por fotos os dois assaltantes que o renderam usando pistolas. A perícia encontrou quatro cápsulas de pistola deflagradas dentro do Stilo.
Enterro
O corpo do menino João Roberto foi sepultado na tarde de terça-feira no Cemitério do Caju. No momento do sepultamento, acompanhado por cerca de 300 pessoas e marcado por emoção e revolta, o pai da criança, Paulo Roberto Barbosa Soares, pediu uma salva de palmas em homenagem ao filho.
“Você não vai morrer dentro do meu coração. Você não merece isso. Foi uma covardia o que fizeram com você”, foram as últimas palavras do pai para seu filho, que foi enterrado vestindo a roupa do Homem-Aranha, seu personagem preferido, que seria tema da sua festa de aniversário de 4 anos, no próximo dia 29.
Durante o cortejo, o grupo parou duas vezes para que a mãe, Alessandra Soares, bebesse água. Muito debilitada e sob efeito de calmantes, Alessandra tinha um curativo na cintura, do lado esquerdo. Ela foi ferida por estilhaços durante a perseguição policial.
Chorando muito, Alessandra foi amparada pelo marido na hora do sepultamento: “A gente se ama, nós vamos superar isso”, disse Paulo Roberto para a mulher, que saiu do local do enterro, no Caju, na Zona Portuária do Rio, numa ambulância.
Homenagem de taxistas
Cerca de 200 taxistas foram prestar homenagem a Paulo Roberto, seu companheiro de profissão, que trabalha na Grajaú Service. Eles chegaram juntos ao cemitério e ajudaram a fazer um cordão de isolamento para a passagem do caixão.
Muito emocionado, o pai da vítima chegou ao velório por volta das 15h desta terça. Quando entrou na capela, ele chamou os policiais de assassinos e, transtornado, gritou que a sociedade carioca precisa de proteção. Em seguida, Paulo saiu da capela e desabafou sua dor com os jornalistas presentes no local.
"Ninguém tem o direito de matar ninguém. O Estado não tem carta-branca para matar ninguém. Aqui não tem pena de morte. Se esta instituição (PM) está falida, vamos melhorar a instituição, mas não botar um monstro na rua para matar a gente. Eles são mal remunerados, mas isso não é motivo para se transformarem em monstros. Tem gente de bem na rua que ajuda a pagar os salários deles, como eu e minha família", disse.
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