COTIDIANO
Quem reclama do repertório de Chico Buarque não ouve Chico Buarque!
Publicado em 20/09/2018 às 9:51 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:38
Ouço Chico Buarque desde o festival de A Banda (na voz de Nara), em 1966. Eu tinha sete anos.
Acompanho sua carreira, portanto, há mais de 50 anos.
Tenho todos os discos. Conheço todas as músicas.
Quando vou vê-lo ao vivo, nada no set list me causa qualquer estranhamento.
Ontem, depois do primeiro show dele em João Pessoa, ouvi algumas queixas sobre o repertório. Não tem aqueles grandes sucessos do passado, tem um monte de músicas chatas e desconhecidas, etc., etc., etc.
Vamos lá.
Há dois grandes modelos de set list adotados no mundo dos shows.
No primeiro, o artista prioriza os hits, oferecendo ao vivo uma espécie de The Best, e insere duas ou três músicas novas. É o que fazem Paul McCartney e os Rolling Stones, por exemplo.
No segundo, o artista apresenta todas, ou quase todas, as músicas do disco novo misturadas com canções de momentos diversos da sua trajetória. Como costumam fazer Caetano Veloso e Chico Buarque.
No caso específico da turnê Caravanas, o disco homônimo tem apenas nove faixas. Elas representam menos de um terço de um set list que tem 30 músicas.
As 21 músicas que não são do disco novo vêm de muitos momentos da carreira de Chico.
Da época dos festivais (Sabiá), do firme engajamento contra a ditadura nos anos 1970 (Partido Alto, Gota D'Água, Homenagem ao Malandro, Geni e o Zepelim), da trilha do filme A Ópera do Malandro (A Volta do Malandro, Palavra de Mulher), do Grande Circo Místico (A História de Lily Braun, A Bela e a Fera), do Chico da maturidade, que produziu joias já incorporadas aos seus clássicos (Paratodos, Futuros Amantes, Estação Derradeira).
O conceito de Caravanas é muito claro. É um recorte pouco linear do vastíssimo cancioneiro de Chico, como defini ontem aqui na coluna.
Só posso entender que quem reclama do repertório do show de Chico Buarque não ouve Chico Buarque!
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