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COTIDIANO

RETRO2016/George Martin

Publicado em 11/12/2016 às 7:08 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:49

George Martin, o quinto beatle, morreu no dia oito de março.

O texto a seguir, escrevi nos 90 anos do maestro, comemorados no dia três de janeiro.


				
					RETRO2016/George Martin

A quem cabe o título de quinto beatle? A Pete Best, o baterista substituído por Ringo em 1962? A Stu, o amigo de John que tocou no grupo antes da fama? A Brian Epstein, o empresário que levou os rapazes ao sucesso? A nenhum deles. O quinto beatle, não tenho dúvidas, é o maestro e produtor George Martin.

Em 1962, quando conheceu os Beatles, levados por Brian, Martin tinha 36 anos. John Lennon e Ringo Starr, os mais velhos, tinham 22. Paul McCartney, 20. George Harrison, o caçula, apenas 19. A diferença de idade era significativa. Embora ainda muito jovem, o maestro já era conhecido como arranjador e produtor de discos. Sua figura se impôs como a de um pai que desconfia um pouco do talento dos filhos, mas enxerga neles algo que o faz crer na viabilidade do investimento.

Entre 1962 e 1969, George Martin atuou como produtor e arranjador de todos os discos dos Beatles. Somente o último, “Let it Be” (de 1970), foi gravado por ele, mas finalizado por Phil Spector. Muito mais do que um nome impresso nas capas e selos: a música de Martin está dentro da música dos quatro beatles. A despeito da tese de Paul McCartney de que, se é assim, por que o maestro não transformou em fenômenos semelhantes outros artistas que produziu?

Não é um bom argumento o de Paul. É injusto. Sim, claro que os Beatles evoluíram naturalmente como músicos e autores, e isto ocorreu graças ao talento extraordinário que provaram ter. Mas, do jeito que os conhecemos, não há como desassociá-los de George Martin, seus conselhos, sua experiência, sua erudição, as trocas que os técnicos dos estúdios londrinos de Abbey Road testemunharam.

O resultado objetivo está nos arranjos e produção dos discos. No terreno do subjetivismo, temos Martin como uma espécie de tradutor de ideias. Quando John quis fazer música concreta (em “Revolution 9”), precisou muito mais do maestro do que do vanguardismo de Yoko. Sua “Strawberry Fields Forever” (comparemos a fita demo com o resultado final) não seria o que é sem o arranjo deslumbrante que ganhou. E assim por diante. Um quarteto de cordas aqui, instrumentos de sopro ali, até a complexidade de uma orquestra sinfônica – não é tarefa difícil enxergar George Martin nos Beatles.

O autor, eclipsado pelo produtor, aparece na bela “Pepperland”, escrita para a trilha do desenho “Yellow Submarine”. E em outros temas que ouvimos na animação. O produtor segue depois dos Beatles. “Tug of War”, de Paul McCartney, é um exemplo eloquente. Ou “The Glory of Gershwin”, tributo ao grande compositor americano gravado, já na década de 1990, em torno do instrumentista Larry Adler.

Em 1998, com sinais de surdez, o maestro anunciou sua despedida. Debruçou-se sobre os Beatles em “In My Life”. Revisitou o repertório do grupo com suaves ousadias. Além de músicos, convidou atores para gravar com ele. Mexeu nos arranjos, recriou. Com a prerrogativa de quem ouviu aquelas canções no nascedouro. A Sean Connery, pediu que declamasse a letra de “In My Life”. A canção, que John compôs aos 25 anos como se estivesse na velhice, recebeu, afinal, a voz de um homem velho.

Não há outros. Os Beatles, como eles são, sem exagero algum, não existiriam sem a elegância e a musicalidade do maestro George Martin.

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Silvio Osias

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