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COTIDIANO

Rússia associa 11 de Setembro à política interna

De forma estratégica, país colocou a ameaça do fundamentalismo islâmico na Checênia como parte da luta mundial contra o terrorismo.

Publicado em 11/09/2011 às 8:00 | Atualizado em 26/08/2021 às 23:29

Sandro Fernandes (Opera Mundi)
De Moscou

Dentre as mudanças provocadas pelos atentados de 11 de Setembro de 2001, o redesenho da agenda internacional é uma das mais emblemáticas. Conflitos até então tidos como relevantes para a Casa Branca e para os grandes grupos de comunicação foram relagados a uma posição secundária ou a uma intencional invisibilidade. No contexto russo, a Chechênia é o caso mais nítido desta mudança de foco. "Qualquer discussão sobre as atrocidades do exército russo passou a ser vista como algo pequeno diante da nova cruzada do governo de [Gerorge W.] Bush", afirmou Martha Brill Olcott, do Carnegie Moscow Centre.

O eterno dilema russo do Ocidentalismo versus Orientalismo se resolveu com a possibilidade de uma multivetorialidade da política externa. Moscou se beneficiou com a nova postura euro-atlântica após os atentados, conseguindo incentivos por parte dos líderes ocidentais no seu processo de entrada na Organização Mundial de Comércio (OMC) – ainda não finalizado –, além do abrandamento das críticas de grupos de direitos humanos na Chechênia. De acordo com o analista canadense Kari Roberts, da Universidade de Calgary, certos aspectos da política internacional russa são "uma reação à atitude imperialista norte-americana no contexto global" e "um resultado da crise de identidade do país após a União Soviética".

Não foi sem razão que o então presidente Vladimir Putin (atual primeiro-ministro) foi o primeiro líder mundial a ligar para o ex-presidente George W. Bush após os atentados. Putin prontamente organizou um plano de apoio à guerra dos EUA a contra o terrorismo, colaborando com informações militares e abrindo o espaço aéreo para as incursões norte-americanas. A cooperação anti e contraterrorista estabelecida após o 11 de Setembro fez da Rússia um importante aliado dos EUA na luta internacional contra a "ameaça terrorista".

As operações militares contra o regime talibã do Afeganistão só foram possíveis graças ao sinal verde dado pela Rússia para o desembarque norte-americano no Tajiquistão e no Uzbequistão. Em troca, a Rússia conseguiu que os EUA qualificassem vários grupos separatistas chechenos como grupos terroristas internacionais, provando inclusive a existência de vínculos entre combatentes e terroristas internacionais.

Estrategicamente, a Rússia conseguiu associar o 11 de Setembro à política interna do pais, colocando a ameaça do fundamentalismo islâmico interno na Chechênia como parte da luta mundial contra o terrorismo.

A aparente melhora das relações russo-americanas depois do 11 de Setembro esconde um jogo de conveniências onde os EUA contam com o apoio estratégico russo para avançar na Ásia Central e a Rússia conta com o silêncio norte-americano no que diz respeito às ações militares na Chechênia, legitimando os ataques do exército russo. O governo Bush, antes crítico às ações do Kremlin na república do Cáucaso, mudou o tom e incluiu tais ações na cruzada anti-terror.

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Jornal da Paraíba

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