COTIDIANO
Solha é artista que engrandece a Paraíba com seu talento
Publicado em 14/05/2019 às 9:21 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:35
W.J. Solha faz aniversário nesta terça-feira (14).
São 78 anos desse admirável artista multifacetado.
Sigo com um pouco do que tenho de Solha na minha memória afetiva.
UM LIVRO
Meu pai tinha um amigo chamado Roberto Peixoto. Foi ele que levou Solha à nossa casa, em Jaguaribe. Os dois eram colegas no Banco do Brasil. Solha questionava a existência histórica de Jesus Cristo e queria escrever um livro sobre o tema. Embora ateu, meu pai não questionava. E tinha argumentos baseados nas muitas leituras que fez. Não só do Evangelho. Era astrônomo amador, e o visitante queria conversar sobre o caminho que o sol percorre a cada 12 meses. Meu pai discordou das teses de Solha sobre Jesus Cristo, mas gostou dele. Alguns anos mais tarde, sentiu o impacto de Israel Rêmora, o livro que ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia. E tentou traduzir suas impressões num longo ensaio que nunca publicou.
UM FILME
Em 1975, Antônio Barreto Neto estava filmando um curta chamado A Guerra Secreta. Eu fazia as vezes de assistente de direção. Contava brevíssimas histórias de pessoas que se rebelavam contra o princípio da autoridade. Tema delicado num país que vivia sob governos de exceção. Solha era o filho que questionava a autoridade dos pais. Fazia pior: resolvia esganá-los na hora do café da manhã. Se é possível imaginar a mistura, a cena tinha algo de Pasolini e Peckinpah. Fomos filmar na casa de Solha. Os filhos dele eram duas crianças lindas que sentaram à mesa durante a filmagem. Mário e Vitória Chianca eram os pais. Havia uma discussão entre pai e filho, e a briga terminava em tragédia. A encenação pareceu real demais. Acredito que Mário e Vitória ficaram um pouco assustados com o que aconteceu naquela manhã.
UMA CANTATA
Muito depois das Ligas Camponesas e bem antes do MST, a Paraíba assistiu à luta pela terra em Alagamar. A década de 1970 estava terminando, e o Brasil vivia a abertura política do general Figueiredo. A redemocratização batia às nossas portas. A Igreja se envolveu no conflito. À frente, Dom José Maria Pires, figura extraordinária que por três décadas comandou o rebanho católico paraibano. A história foi contada numa peça musical que fundia o erudito com o popular. José Alberto Kaplan, um argentino que viveu e morreu na Paraíba, escreveu a música. Solha, o texto. Na estreia, o arcebispo fez um comentário inesquecível: que a Cantata Para Alagamar unia três homens chamados José. E falou das diferenças que havia entre eles. Dom José era cristão. Kaplan, judeu. E Solha não acreditava na existência de Jesus Cristo.
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Um livro, um filme, uma cantata. São pequenos retratos tirados a partir do que guardo na minha memória afetiva. Solha faz muitas outras coisas. É autor de teatro, artista plástico, já se envolveu com o mundo da propaganda, até com o sindicalismo. Solha engrandece a Paraíba com o seu talento.
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