COTIDIANO
Torcedor atingido por bala de borracha em jogo do Campinense relata momentos de angústia
Wendel Guerra teve dois ossos da face fraturados e ainda passará por avaliação para saber da necessidade de uma cirurgia. Apesar do ocorrido, ele quer voltar ao Amigão.
Publicado em 09/02/2022 às 14:20
As cenas lamentáveis que aconteceram na arquibancada do Estádio Amigão, no último dia 29 de janeiro, não sairão da mente do torcedor Wendel Guerra, atingido no olho por um tiro de bala de borracha vindo de um policial que atuava para conter uma confusão fora do estádio. O jovem relatou os momentos de angústia no momento do tiro, e apesar do que passou, mesmo com medo, revela o desejo de retornar ao Amigão para ver o Campinense jogar. O clube prestou apoio ao torcedor.
A primeira tomografia realizada por Wendel, ainda no dia do ocorrido, apontou que houve fratura em dois ossos da face. Uma avaliação foi realizada e constatou-se que não é necessário cirurgia, que as fraturas não interferem na movimentação do olho. Os exames realizados na última semana também foram animadores, pois, segundo a médica que está acompanhando o caso, não houve descolamento de retina, porém é preciso continuar com cuidados para que essa retina não venha a descolar posteriormente. Apesar da boa notícia, Wendel admite que ainda tem medo de perder a visão.
"Ainda tenho muito medo de perder minha visão. Depois do que a médica falou, fiquei um pouco mais tranquilo, mas ainda não é certeza que eu volte com 100% da minha visão. Meu medo é não recuperar, ficar com sequelas", disse Wendel.
Passados 10 dias do ocorrido, hoje Wendel trata em casa de uma hemorragia no olho ferido. O tratamento será feito primeiramente com medicações, para ver se o organismo responde e não seja necessária uma cirurgia. O jovem, que é autônomo e ajuda ao pai como auxiliar de pedreiro, está impossibilitado de trabalhar, pois precisa de repouso até sua total recuperação.
Wendel foi ao estádio com seu pai e alguns familiares, assim como faz em todos os jogos do Campinense. Ele falou que nunca esperava passar por algo assim, e relatou o desespero que passou no momento em que foi atingido pelo tiro de bala de borracha, desferido por um policial.
"Na hora fiquei com muito medo, foi muito rápido. Assim que coloquei minha cabeça para fora do estádio, para ver o que estava acontecendo embaixo, o policial simplesmente mirou em mim e atirou. Eu desci escorregando pela mureta, com um zumbido no ouvido e ouvindo a gritaria das pessoas e sem conseguir enxergar nada por nenhum dos olhos. Eu só gritava 'não tô vendo nada, não tô vendo nada, pai eu tô cego'", explicou.
Wendel é torcedor apaixonado pelo Campinense, viu vários momentos da história da Raposa, como o título da Copa do Nordeste, grandes jogos pela Copa do Brasil e a recente campanha do acesso para a Série C. A paixão pelo clube veio do pai, torcedor do Rubro-Negro desde criança, e que ensinou a Wendel a torcer, já que o jovem nasceu no Rio de janeiro e só passou a morar em Campina Grande aos 11 anos. Apesar de todo o trauma vivido, e de sentir medo, ele quer sim voltar ao Amigão, para acompanhar seu clube do coração.
"Espero sim voltar para assistir a um jogo do Campinense, porque é o meu time do coração. Eu amo ver futebol, nasci e me criei no Rio de Janeiro, vim para Campina Grande com 11 anos e meu pai passou a paixão dele pelo Campinense para mim. Eu gosto muito de ir ao estádio, é algo que me deixa alegre, que relembra minha infância, de quando eu ia para o Maracanã. Quero sim de voltar ao estádio, mas agora vou com o pé atrás, vou com medo. Até então eu não tinha medo, porque nunca procurei confusão, ao contrário, sempre fugi de confusão. Nesse jogo, chegamos meia hora antes de começar e já entrei no estádio, para fugir de confusão", finalizou o torcedor.
Na última semana o Campinense emitiu uma nota através do seu site oficial, em solidariedade ao torcedor ferido durante a partida. Wendel também recebeu a visita do presidente do clube, Danylo Maia.
Confira a nota do Campinense:
O Campinense vem a público manifestar a mais irrestrita solidariedade ao torcedor Wendel Souza Guerra, que acabou ferido com um disparo de bala de borracha no rosto, depois de uma confusão no entorno do estádio Amigão durante o primeiro tempo da partida do último sábado, 29, entre Campinense e Bahia, pela 2º rodada da Copa do Nordeste. O torcedor foi rapidamente atendido por uma ambulância do Corpo de Bombeiros e levado para o Hospital de Trauma de Campina Grande.
O Clube lamenta, profundamente, o episódio ocorrido, afirma que já está prestando toda assistência necessária ao torcedor, e que não compactua, tampouco aceita, qualquer tipo de violência dentro ou fora dos estádios, priorizando, desde sempre, o bem-estar de todos os presentes, visando proporcionar um ambiente acolhedor, de festa e alegria, que possa ser frequentado por toda a família.
QUEREMOS PAZ NOS ESTÁDIOS. NÃO À VIOLÊNCIA!
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