Após acidente com trem, usuários de ônibus estão com medo

Depois do grave acidente ocorrido entre um trem e o ônibus da empresa Santa Rita que faz a linha Várzea Nova, na tarde da última segunda-feira, resultando em pelo menos 30 feridos e quatro mortos, a população que utiliza o transporte coletivo está receosa e com medo de fazer o trajeto. Alguns usuários chegam a mudar a rotina, descendo do ônibus antes da passagem de nível, onde ocorreu a colisão, mesmo tendo que caminhar mais até chegar em casa.

A cuidadora Edriana Clemente, 39 anos, relatou que, desde o ocorrido, a sensação de medo e insegurança lhe ronda durante as viagens de ônibus. “Fico ansiosa quando o ônibus se aproxima do trecho, procuro redobrar a atenção. Na verdade, fiquei com medo desde o acidente que ocorreu em 2013, nas Três Lagoas. A sensação de insegurança é constante”, afirmou.

Já o militar reformado do Exército Brasileiro João Batista, 51 anos, disse que tem procurado descer do ônibus antes da passagem de nível, em Várzea Nova, mesmo sua parada convencional sendo depois, obrigando-o a andar mais que de costume. “Não tem como não ter medo. Agora mesmo, ao pegar o ônibus, fiquei nervoso porque sei os horários em que o trem passa. Já cheguei a descer antes da minha parada para não ter que cruzar a passagem de nível no ônibus”, declarou.

João Batista disse ainda que percebeu mais cuidado, por parte dos motoristas, no momento de atravessar a linha férrea, mas confessou que nem todos os condutores do coletivo costumam seguir essa prerrogativa. “Nem todos os motoristas são responsáveis em ter o cuidado de parar, olhar e seguir com segurança antes de passar na passagem de nível. Já vi muitos fazerem isso, mas tem uns que continuam se arriscando”, contou.

A dona de casa, Ilma de Fátima, 35 anos, que costuma pegar o coletivo na companhia do casal de filhos pequenos, declarou que se pudesse não passaria pela passagem de nível, devido ao temor de um novo acidente. “A gente fica inseguro, com medo. Já pensei em descer antes, mas como meu ponto é mais distante, bem depois de onde ocorreu o acidente, fica muito ruim pra mim, porque com criança é mais difícil”, ressaltou. Ilma também percebeu que nem todos os motoristas redobraram a atenção após o acidente.

EMPRESA

De acordo com o gerente operacional da empresa de ônibus Santa Rita, Luiz Carlos, as orientações e treinamentos da empresa, obrigatórios para os motoristas, além da própria formação da categoria já alertam sobre os cuidados que devem ser adotados no trânsito. No entanto, após o acidente, as instruções foram reforçadas.

“É natural que a população fique com medo depois do que aconteceu, mas quero esclarecer que estamos reforçando o alerta aos motoristas para terem cautela redobrada no trecho da passagem de nível. Os motoristas estão conscientes da necessidade de ter mais atenção, foi um acidente que comoveu e mexeu com a emoção de todos. São pais de família, filhos e profissionais responsáveis que entendem a situação”, garantiu Luiz Carlos.

A reportagem entrou em contato com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para que ela também esclarecesse sobre a orientação repassada aos maquinistas, em especial para trechos urbanos de passagem de nível, com tráfego intenso de veículos, como em Várzea Nova, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição.