VIDA URBANA
27% dos paraibanos têm necessidades especiais
Índice apresentado pelo IBGE revela um salto de nove pontos percentuais em relação ao Censo de 2000.
Publicado em 28/04/2012 às 6:30
Em 10 anos, a quantidade de portadores com algum tipo de necessidade especial aumentou em 61,1% na Paraíba. O número saltou de 649.099, em 2000, para 1.045.962, em 2010. O crescimento foi revelado ontem pelo Censo Demográfico 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e trouxe à tona uma realidade preocupante: enquanto cresce a população, faltam políticas públicas para essas pessoas no Estado.
Dos quase 3,7 milhões de habitantes da Paraíba, 27,8% possuem alguma necessidade especial, seja física, intelectual ou mental. O índice é o mesmo apresentado pelo Rio Grande do Norte e fez os dois Estados liderarem o ranking nacional de unidades da federação que possuem a maior parcela de habitantes com necessidades especiais. Enquanto que Roraima (21,2%), Santa Catarina (21,3%) e Mato Grosso do Sul (21,5%) apresentaram a menor quantidade de pessoas com algum tipo de problema físico.
O crescimento da Paraíba representa um salto de nove pontos percentuais em relação ao Censo de 2000. Na época, o documento constatou que apenas 18% da população tinham algum tipo de necessidade especial.
Os problemas de visão são, de longe, as maiores queixas das pessoas entrevistadas. De acordo com o Censo 2010, dos mais de um milhão de deficientes no Estado, 823 mil sofrem com dificuldade para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato. Isto equivale a 21,8% da população paraibana. Deste total, há 142.196 pessoas com deficiência visual severa, sendo que 8.477 eram cegas. Este número corresponde a 0,2% do total de habitantes do Estado.
Para o diretor jurídico do Instituto de Cegos da Paraíba, Genezio Fernandes, os números são preocupantes, porque mostra um crescimento da população com necessidades especiais, enquanto o Estado não está preparado para abrigar esses habitantes.
“Falta estrutura para deficientes desde a escola até na vida profissional. A lei que garante a acessibilidade existe há mais de dez anos, mesmo assim continua sendo desrespeitada. Prédios que têm rampas e banheiros adaptados ainda são uma raridade e há desrespeito até em órgãos públicos”, lamenta.
Genézio aponta que a falta de respeito mais evidente está nas ruas. Calçadas com buracos, obstáculos de concreto e de ferro, orelhões e até veículos atravessados se transformam em verdadeiras armadilhas para os portadores de deficiências.
“Alguns deficientes visuais precisam caminhar nas ruas, porque sofrem quedas nas calçadas. Se na capital está assim, imagine o que acontece no interior. Os números do IBGE mostram que há mais de um milhão de deficientes na Paraíba e cabe ao Estado e à sociedade se sensibilizarem para reduzir os transtornos causados”, argumentou.
As reclamações do diretor jurídico, que é portador de necessidade visual, são as mesmas do aposentado Severino Ramos de Araújo, 36 anos. Há oito anos, ele sofreu um acidente e ficou paralítico. Desde então, precisa se locomover com ajuda de cadeira de rodas.
“Com exceção da orla, as calçadas de João Pessoa são esburacadas, o que nos obriga a transitar no asfalto e correr o risco de ser atropelado. As lojas não têm rampas e já deixei de comprar por causa disso. Ônibus também não respeitam e muitos motoristas passam direto, mesmo a gente pedindo parada. Não existe respeito”, desabafa.
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