VIDA URBANA
35% dos assassinatos são de ex-presidiários
Publicado em 06/11/2011 às 6:30
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Retomar a vida em sociedade é uma tarefa difícil para quem foi condenado a passar anos na cadeia. Além do preconceito e da falta de oportunidade, os ex-presidiários são obrigados a enfrentar as inimizades e dívidas que construíram enquanto ainda estavam no 'mundo do crime'.
Em Campina Grande, a dificuldade na ressocialização se reflete nas estatísticas dos casos de assassinato. Nos primeiros 10 meses do ano, 35,3% das vítimas de homicídio são ex-presidiários.
O levantamento é do setor de estatísticas da 2ª Delegacia Regional de Polícia Civil, em Campina Grande. Até outubro, já foram registrados 150 casos de homicídio na cidade sendo que 53 vítimas já haviam cumprido pena no sistema penitenciário paraibano. A proporção pode ser ainda maior, já que não foram contabilizados os casos envolvendo pessoas que tenham cumprido pena em outros estados do país.
O total de homicídios registrados este ano em Campina, já se iguala ao número total de vítimas em 2009. Em comparação ao ano passado, 2011 já contabilizou 79,3% do total de vítimas, faltando ainda menos de dois meses para o fim do ano. Em 2010 foram registrados 189 assassinatos na cidade.
Um dos casos este ano foi do ex-presidiário Gutemberg da Silva Barros, de 30 anos, morto com três tiros. O crime aconteceu em frente à Central de Polícia de Campina Grande, no bairro do Catolé. Ele já havia cumprido pena por ter cometido um assassinato no bairro da Glória em 1998, crime pelo qual foi condenado e passou sete anos no Presídio do Serrotão.
Gutemberg foi morto seis meses após ter saído da cadeia para cumprir o resto da pena na condicional.
Para a delegada de Homicídios de Campina Grande, Cassandra Duarte, o alto índice de mortes entre ex-presidiários não está relacionada diretamente com o tempo que eles passaram atrás das grades, mas com o envolvimento com o crime antes da prisão. “A maioria dos crimes não tem relação direta com o tempo que eles passaram na prisão, mas com rixas feitas aqui fora, principalmente com envolvimento no tráfico de drogas”, afirmou.
Mas os conflitos gerados no interior das celas e pavilhões também são motivos que tornam os ex-detentos mais vulneráveis à violência quando saem da cadeia. Foi o caso do albergado Joseildo Nogueira, 32 anos, conhecido no mundo do crime como 'Zoma'. Ele foi morto a tiros quando saía da Casa do Albergue e segundo o diretor do Presídio do Serrotão, capitão Araújo, o caso dele é um exemplo de rixa surgida dentro do sistema penitenciário.
“Existem disputas por liderança entre os detentos. O 'Zoma' quando estava aqui costumava bater em muitos outros presos e tinha várias inimizades. Só que quando sai da cadeia fica sozinho, porque o grupo dele continua no presídio”, afirmou.
Os presos com bom comportamento e que colaboram com a direção da penitenciária também são ameaçados pelos detentos. “Os detentos que ajudam no trabalho e que colaboraram com as vistorias são muito perseguidos pelos outros presos e recebem ameaças. Os estupradores também correm riscos na cadeia”, conclui.
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