VIDA URBANA
54,5% dos partos são cesáreas
De acordo com o ginecologista e professor Geraldez Tomaz, cesarianas aumentam o risco de prematuridade e mortalidade fetal.
Publicado em 26/07/2012 às 6:00
Nos primeiros sete meses deste ano, 26.062 partos foram realizados em instituições médicas públicas e privadas da Paraíba, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Deste total, 14.217 foram cirurgias cesarianas, o que correspondeu a 54,5% dos casos; e outros 11.778 foram normais, representando 45,1% do número de nascimentos. Para as autoridades em saúde, a quantidade de cesáreas é motivo de preocupação.
Segundo o ginecologista membro da Sociedade Paraibana de Ginecologia e professor universitário Geraldez Tomaz, a cesariana aumenta os riscos de complicações durante o parto e pode deixar graves sequelas e até causar a morte da mãe ou da criança. Apesar disso, a Paraíba está vivendo em meio a 'uma febre desses procedimentos, feitos de forma desnecessária.
“A cesariana cresceu muito nos últimos anos. Como consequência, ocorreu muita mortalidade fetal e prematuridade.
O motivo é que, em alguns casos, tira-se bebê de forma prematura, antes do tempo, o que contribui para o aumento de sérios problemas para a criança”, afirma.
Além do bebê, a mãe também fica exposta a vários riscos. Ele explica que os danos causados ao organismo pelo procedimento cirúrgico são tão intensos que a mulher fica impedida até de realizar parto normal. “Dependendo da forma como a cirurgia é feita, uma mulher pode ser submetida a várias cesarianas e ficar impedida de ser induzida ao parto normal, por conta dos riscos de romper o períneo, de ter problemas com sangramentos na placenta, até de perder o útero ou de morrer na sala de cirurgia”, alerta o médico.
Apesar dos riscos, a quantidade de cesarianas feitas na Paraíba superou os registros de partos normais em 2011. Segundo a SEE, dos 58.736 nascimentos registrados no ano passado, 31.138 foram cesarianos, enquanto que outros 27.379 foram por via vaginal. A prevalescência das cirurgias é maior em maternidades privadas. Em 2010, do total de partos ocorridos nas instituições privadas, 97,5% foram cesáreas e apenas 2,5 foram normais, segundo a Secretaria de Saúde de João Pessoa.
A situação se repetiu no ano seguinte. Em 2011, o percentual de cesarianas chegou a 96,9%, enquanto os de partos vaginais não passou de 3,1%. Para a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde de João Pessoa, Meirhuska Mariz Meira, o maior desafio do governo é conscientizar as pacientes do setor privado a realizarem partos normais, sempre que o estado de saúde permitir.
“Mesmo não tendo indicação clínica para a cesariana, ou seja, possuindo condições de fazer um parto normal, as mulheres do setor privado preferem a cesariana por conta do estigma de que o parto normal causa dor ou deixa sequelas físicas. Outro motivo é a possibilidade de marcar a cirurgia com antecedência e, assim, ter maior controle sobre a data do nascimento do filho, coisa que não é possível fazer com o parto normal”, explica Meirhuska.
“No entanto, elas esquecem que a cesárea representa um risco maior para a saúde dela e a da criança”, completa.
De acordo com a coordenadora, a paciente submetida a parto normal recebe alta, em média, dois dias após o procedimento. Já as que fizeram cesarianas permanecem na maternidade, no mínimo, por três dias. Além de complicações cirúrgicas, as mulheres operadas ficam expostas ao risco de infecção hospitalar, devido à maior permanência na maternidade.
“Por conta disso, a cesariana só deve ser indicada apenas nos casos complexos, quando a mãe não pode, por motivos clínicos, ter o filho por via vaginal, seja porque ela está hipertensa, com diabetes ou porque o tamanho da criança é desproporcional à passagem da mãe. Mas essas orientações não são seguidas.
No setor privado, as cesáreas ocorrem até mesmo antes do momento certo, o que pode levar os bebês a nascerem de forma prematura”, diz Meirhuska.
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