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VIDA URBANA

62% das meninas em medidas socioeducativas trabalhava antes de internação, diz pesquisa

Pesquisa foi desenvolvida por uma das cinco socioeducandas que são bolsistas do PIBIC.

Publicado em 13/04/2018 às 16:15 | Atualizado em 13/04/2018 às 19:44


                                        
                                            62% das meninas em medidas socioeducativas trabalhava antes de internação, diz pesquisa

Uma jovem pesquisadora privada de liberdade e bolsista  do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC Ensino Médio) apresentou, no Centro Socioeducativo Rita Gadelha, o resultado da pesquisa aplicada por ela sobre “A inserção precoce de crianças e adolescentes no trabalho e o envolvimento em atos infracionais”. Ela é parte de um grupo de cinco adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas unidades de internação de João Pessoa e que são bolsistas/pesquisadores desde agosto do ano passado.

A pesquisa foi aplicada com 13 meninas em cumprimento de medida na unidade feminina, com idade entre 14 e 18 anos. Do total das entrevistadas, 62% afirmaram ter trabalhado antes do cumprimento da medida e 38% justificaram que trabalhavam para ajudar a família.

Desse total, 38% (maioria) estão na faixa dos 16 anos e 15% delas tem apenas 14 anos. Entre as que começaram a labuta precocemente, 55% tinham idade de 13 anos. No item ajudar a família, 40% delas começaram a arrumar casa, lavar prato, lavar roupa, quando tinham entre 12 e 13 anos.

O nível de escolaridade da maioria delas (46%) chegou ao 6º ano e todas interromperam os estudos antes mesmo de cumprirem medidas socioeducativas. As dificuldades de uma vida sofrida contribuíram muito para a evasão escolar. Entre as atividades de trabalho mais comuns estava o tráfico que envolveu 37% das adolescentes em cumprimento de medida. Trabalhar desde criança como babá, doméstica, balconista, feirante e faxineira, sem direito a estudar, eram as outras ofertas da sociedade.

Além das atividades identificadas nos questionários, as entrevistas revelaram a inserção em outras funções como coleta de lixo, cemitério, cuidado ou vigilância de crianças, pessoas idosas ou doentes e comércio ambulante, classificadas pelo decreto 6.481 como ‘Piores Formas de Trabalho Infantil’.

A jovem está hoje com 18 anos e contou que para tornar-se pesquisadora, mesmo afirmando não gostar de ler, se submeteu ao desafio de fazer uma redação em que dizia do seu interesse de participar da pesquisa. Concorreu com mais três pessoas e foi a selecionada.

A partir de então, como precisava ler, foi se sentindo estimulada pelos professores e passou a vislumbrar as oportunidades. “Na hora em que eu estava entrevistando as meninas, levava a sério, não me sentia uma socioeducanda. Me sentia chique e uma profissional”, relatou.

Ao concluir sua exposição sobre o trabalho desenvolvido nesta unidade socioeducativa, a jovem pesquisadora foi sabatinada por companheiras internas que desejavam um futuro promissor. Para ela, seus próximos passos incluem fazer o curso de Psicologia e trabalhar com a sócioeducação.

No decorrer do trabalho como pesquisadora também despertou o desejo de fazer o curso de Direito “para defender as adolescentes que cumprem medidas”. “Quero dar orgulho à família, estruturar minha independência e ser livre”, disse, revelando seus planos.

Projeto – A coordenação geral do projeto é da professora doutora Maria de Fátima Pereira Alberto, do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o Desenvolvimento da Infância e Adolescência.

Segundo a professora, a ideia da pesquisa é buscar resposta onde se relacione dois aspectos: mostrar as consequências do trabalho infantil e o envolvimento com atos infracionais.

Imagem

Rafaela Gambarra

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