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VIDA URBANA

"A gente pode perder tudo, menos a fé"

Otimista, seu Sebastião Honorato diz que não se deixa abater pela seca e cria meios para vencer as adversidades no Sertão da Paraíba.

Publicado em 17/05/2013 às 6:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 17:07


A dificuldade ocasionada pela seca, em muitos casos, impulsiona agricultores a usar a criatividade para garantir a sobrevivência da família. É o caso de seu Sebastião Honorato, 69 anos, que mora no município de Patos, no Sertão paraibano.

Todas as manhãs ele sai de casa empurrando a velha bicicleta com destino à pequena horta que mantém às margens do açude Jatobá. No pequeno pedaço de terra, ele cultiva hortaliças como alface, quiabo e pimentão.

A alegria de Sebastião contrasta com os efeitos da seca no interior. A todo instante, enquanto trabalha, ele canta; ou sorri; ou as duas coisas juntas. Impossível não ser contagiado com tanta simpatia, que por momentos leva para longe o sentimento de amargura diante das consequências da estiagem. “Eu não tenho motivo para ficar triste. Deus me deu saúde para trabalhar, isso me basta”, comentou o agricultor, enquanto desamarrava o cercado para a equipe de reportagem entrar na horta.

Mas a alegria não apaga as más lembranças dos períodos de estiagem da memória do agricultor. “Já teve muita seca por aqui, minha filha. Muita gente já foi embora porque não dava mais para viver aqui no Sertão”, declarou seu Sebastião. Mas ele nunca pensou em ir embora de Patos, onde mora com a mulher. “Esse lugar é sagrado. Daqui só saio quando Deus me levar”, afirmou o agricultor. As filhas e os netos dele moram em João Pessoa.

O andar lento de seu Sebastião é o responsável por deixá-lo horas cuidando da plantação, mas não é só isso. Ele quer sempre fazer o melhor e parece perfeccionista, apesar de usar a água esverdeada e de cheiro forte, do açude Jatobá. “Essa água não pode ser desprezada. Às vezes eu vejo jovens jogando lixo aqui e dou uma lição de moral. Água é vida”, explicou o agricultor, se referindo à água imprópria para o consumo, apesar de ter servido para matar a sede de muitas pessoas que moram na zona rural de Patos.

A criatividade de manter uma horta às margens do açude Jatobá tornou seu Sebastião figura conhecida na cidade. A todo instante, alguém passa, de bicicleta ou carroça, acenando para o agricultor, que corresponde ao gesto todo entusiasmado. “Isso para mim é uma felicidade só. Gosto de ter amigos”, afirmou.

Quando chega ao local por volta das 8h30, seu Sebastião trata logo de colocar a camisa de manga longa e o chapéu de palha, na tentativa de se proteger do sol forte. No rosto, nos braços e nas mãos, ele leva consigo as marcas de quem passou uma vida inteira trabalhando no campo. Mesmo com tanto trabalho, seu Sebastião disse que não conseguiu bens. “Só tenho uma casinha simples e essa bicicleta”, afirmou, em tom de satisfação.

Ele e a mulher são aposentados e a horta acaba sendo um complemento da renda. O que é colhido, seu Sebastião leva para a feira e vende por preços bem abaixo do praticado por outros comerciantes. “Eu vendo tudo bem baratinho porque quero é ajudar as outras pessoas. Sei que muita gente está passando necessidade por conta da seca, então essa é minha forma de agradecer a Deus pela saúde que tenho. Faço por amor ao próximo”, contou. “Tudo o que planto é livre de veneno (agrotóxico), é limpinho, é natural”, garantiu.

Na pequena plantação ele cultiva coentro, alface, cebola, mastruz, hortelã, pimentão, quiabo e mamão. O verde da horta de seu Sebastião se opõe ao cenário cinza encontrado no sertão paraibano. “Tenho muito orgulho desse pedacinho de terra”, disse o agricultor, que improvisou uma pequena casinha no local, que proporciona um cochilo na sombra depois do almoço. “Quando estou aqui me realizo. Se eu fosse me abater por conta da seca, já teria morrido”, ressaltou.

Em determinado momento da entrevista, ele para por um instante, olha pensativo para o céu, e faz um verso improvisado, quase chorando, pedindo a Deus para mandar chuva para o Sertão. “A gente pode perder tudo, menos a fé”, destacou o agricultor. Quem conhece seu Sebastião concorda que, com a simplicidade peculiar do homem do campo, ele é um exemplo de coragem diante da força devastadora da seca. Sofre com os efeitos da estiagem, como qualquer sertanejo, mas aprendeu a enfrentar a estiagem e sobreviver aos dias difíceis.

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Jornal da Paraíba

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